Os anos 1980 foram uma porcaria, é verdade. Mas os anos 1990 foram infinitamente piores. Nomes como É O Tchan, Tiririca, Falcão, Grupo Molejo, Mamonas Assassinas, Leandro e Leonardo, Mastruz Com Leite, Backstreet Boys, Walter Mercado, Teletubbies, Bananas de Pijama, Fernando Collor e outras calamidades públicas eram a bola da vez nesta que Alexandre Figueiredo classificou – e eu concordo – como a pior década do século 20.
A onda de revivals teve início na própria década de 80, quando virou moda reviver os anos 1960. Depois, os 90 foram resgatar os 70, com a discothèque se transformando em dance music (padrão Jovem Pan 2), e entre 2000 e 2005 virou febre a ‘moda retrô’, sob o rótulo de trash 80´s. O nome é bem cabível, já que se priorizou tudo de ruim que fez sucesso na década perdida, do remexer de glúteos da Rita Cadillac ao tosco programa de auditório do palhaço Bozo (xerox do personagem norte-americano de livros infantis), da musiquinha do Menudo à revista Brazil. Mas pouco se falou na redemocratização do país, da realização do Rock in Rio, no Plano Cruzado e na ascensão do operário e líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva.
Pois é. Mas, como foi dito, a década de 90 conseguiu superar sua predecessora. E todas as porcarias ocorridas nesse período, do rebolado grosseiro das Sheillas às imagens chocantes de um suicídio ao vivo exibidas no Aqui Agora, estão sendo relembradas com vontade pela grande mídia. E, o que é pior, tentando passar a falsa imagem de ‘sofisticação’, o que permite que a época de FHC seja retratada com uma dose de manipulação. O Brasil, de memória curta, vai atrás e acredita em tudo que jornais, revistas e outros formas de se chegar ao grande público afirmam.
Com um pé na cafonice
Nomes descartáveis como Vinny, Que Fim Levou Robin e Regininha Poltergeist estão sendo tratados como ‘ícones da vanguarda cultural’, como se fossem mais importantes que o Tropicalismo! Figurinhas fáceis, como Ratinho, Sônia Abrão e Luciano Huck recebem altos elogios, como se remetessem aos velhos tempos da televisão brasileira. Nelson Rubens e as revistas de fofoca Contigo, Tititi, Quem Acontece etc. são promovidas a ‘colunismo social’. Isso para não mencionar os neobregas Alexandre Pires, Chitãozinho e Xororó e Ivete Sangalo, que do dia para a noite se tornaram ‘gênios da MPB’, a tal ponto que qualquer crítica negativa a esses ídolos é rebatida com muita arrogância por parte de seus defensores.
A juventude alienada da night, que cultua a gíria ‘balada’ e bandas de rock barulhento, é viciada em chats e não entende nada de política, também tem seu lado ‘saudosista’, refletido no culto a Gretchen, Sidney Magal, Trem da Alegria e qualquer nome da mediocridade cultural que tenha um pé na cafonice. Sim, isso eles adoram.
Conformismo, alienação, intolerância
Mas para os fatos realmente importantes eles torcem o nariz, como se a Segunda Guerra Mundial tivesse sido ‘brincadeira de criança’. Da guerra do Vietnã, que durou mais de 20 anos e foi decisiva para os Estados Unidos, eles sequer ouviram falar. Para essa ‘galera descolada’, só importa se o Brasil está na agenda de Axl Rose para sua próxima turnê. Lady Gaga virá? Ótimo! Que se dane o FMI e o Pré-Sal.
Para a ‘geração X’, nascida a partir de 1978, nada mais antigo que a Jovem Guarda presta. É o máximo que eles conseguem absorver, ainda assim dando ênfase aos retardatários do estilo, como Odair José, Reginaldo Rossi e, sobretudo, Amado Batista. Para eles, Andy Warhol é apenas um pseudo-intelectual chato e o Velvet Underground provoca sono. Legião até vai, mas ‘não chega aos pés’ do Charlie Brown Jr.
Com isso, a juventude reacionária cujos mestres devem ser os redatores da Veja, Olavo de Carvalho, Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo, acaba seguindo os ensinamentos destes articulistas. Apesar de toda a pose rebelde, pretensamente engajada, os jovens que possuem um perfil similar ao esmiuçado neste texto apenas representam o conformismo, a alienação, a intolerância mais moralista e conservadora. Roberto Marinho pode descansar em paz.
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Estudante, Praia Grande, SP