Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A comercialização e seus princípios éticos

Leandro Marshall, no livro O jornalismo na era da publicidade, aponta que a comercialização do jornalismo nos termos atuais é ‘decorrente do processo de industrialização nascido no século 15 […] e da consolidação do liberalismo e do desenvolvimento econômico mundial’ (MARSHALL, 2003, p. 64). Esse modelo econômico, hoje adotado pelo jornalismo moderno, tornou-se perigoso e condenado por muitos teóricos, uma vez que muitos acordos são fechados com anunciantes, às vezes em troca de protecionismo.

A imprensa periódica surgiu em decorrência da necessidade de informação mercantil na florescente sociedade capitalista e, portanto, veio a suprir objetivamente uma necessidade do capitalismo (MARSHALL, 2003, P. 64).

Tendo em vista que sua credibilidade, dentro dos princípios acadêmicos, vai desde a sobrevivência financeira aos valores e conceitos éticos, técnicos e estéticos. No contexto da luta pela democratização da comunicação, da construção de uma sociedade em que homens e mulheres recebam informações confiáveis, depara-se em conflitos e contradições imposta pela sociedade capitalista que impõe a comercialização do jornalismo.

Os rendimentos da venda de espaço publicitário tornaram-se lentamente a base econômica dos jornais, cuja crescente dependência em relação à propaganda trouxe consigo a comercialização do jornalismo e o movimento de concentração orientado pelo lucro no mercado dos meios de comunicação (MARCONDES FILHO apud MARSHALL, 2003, p. 108).

Liberdade, igualdade e respeito

Ao verificar um pouco da história da pequena imprensa, percebe-se que comercialização do jornalismo é um caminho perigoso. Em muitos casos o repórter que é também o dono do jornal, tende a ter dificuldade de se define a si mesmo, perante os aspectos das posições políticas e da prática jornalística. Pedro Celso Campos explica que um dos motivos desses conflitos é devido a esses jornais serem menores e por terem um público menor. Para o escritor as pressões são maiores e mais diretas, tanto por parte dos anunciantes como a dos leitores.

‘[…] Ser dono de jornal não é o ‘mar de rosas’ sonhado pelos repórteres dos grandes centros. […] Muitas vezes resulta em terríveis dores de cabeça, principalmente quando o jornalista-empresário pretende se manter incorruptível, sem ceder a este ou aquele grupo da comunidade, buscando servir apenas, e o mais imparcialmente possível, aos seus leitores. A primeira grande dificuldade de quem decide montar o próprio jornal, em pequenas comunidades, é separar jornalismo e publicidade (CAMPOS, 2007, acesso em 25 abr. 2007).’

Portanto, jornalismo e publicidade é uma linha perigosa. Neste sentido, Leandro Marshall usa a expressão ‘jornalismo cor-de-rosa’ (MARSHALL, 2003) aos jornais que não praticam os princípios reais do jornalismo e que dão mais valor aos interesses do mercado – massificando a informação com tentativa de agradar a todos. Para o autor é uma prática inescrupulosa que tem a tentativa de enganar a opinião pública e vender jornalismo por publicidade.

A informação, como mercadoria, não é do repórter, mas dos proprietários da empresa de comunicação, a qual está sujeita a muitos interesses e pressões. Isso não torna o veículo necessariamente conservador. Pode mesmo ousar, inovar para manter e ampliar sua presença no mercado (LUSTOSA apud MARSHALL, 2003, p. 39).

Outra característica marcante do jornalismo no interior está relacionada aos valores sociais e éticos do jornalismo. ‘Valores como a liberdade, a igualdade social e o respeito aos direitos fundamentais do ser humano’ (NOBLAT, 2003, p. 26).

‘Desprezo por métodos desleais’

Esses valores são moldados pela ética jornalística, definido pela enciclopédia livre Wikipédia como princípios ligados a conduta e procedimentos que conduzem a atividade do jornalismo. ‘Embora geralmente não institucionalizadas pelo Estado, estas normas são consolidadas em códigos de ética que variam de acordo com cada país’ (WIKIPÉDIA, 2007, acesso em 16 de abr. 2007).

Os valores que regem a profissão jornalística são os mesmos constituídos para a convivência entre os seres humanos, como solidariedade, compaixão, tolerância e justiça social. Porém, a diferença entre um repórter e um médico, é que os jornais são ‘instrumentos de acesso ao mundo para o cidadão’ (MARTINS, SILVA apud COUTINHO, acesso em 22 out. 2006).

Sendo assim, o jornalismo procura para si um principio que legitime os valores éticos dos cidadãos por meio de uma ética normativa (deontológica). Neste caso Daniel Cornu define como uma responsabilidade social que ‘ultrapassa o ponto de vista individualista’, (CORNU, 1998, p. 153), aponta ainda que uma das funções deontológica está escrita na Declaração dos Deveres dos Jornalistas. Nela visa formular os princípios de um bom trabalho jornalístico através do…

‘[…] respeito à verdade em razão do direito do público de conhecê-la, pelo tratamento rigoroso da informação, o respeito às fontes confidenciais, o desprezo aos métodos desleais e a retificação de informações inexatas’ (CORNU, 1998, p. 27).

Mentira e perda de credibilidade

Para normatizar a ética no Brasil, em 1987 foi aprovado o Código de Ética dos Jornalistas. No artigo sétimo estabelece que é dever fundamental do jornalista buscar a verdade dos fatos e que seu trabalho deve ser pautado na precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação.

Daniel Cornu aponta a Federação Internacional de Jornalistas – FIJ, fundada em 1952, e a Organização Internacional dos Jornalistas – OIJ, como entidades que se ocupam, igualmente, das questões da ética profissional. Diz ainda que a integridade pessoal e o fator de remuneração na conduta ética de um jornalista é uma questão de mercado.

‘[…] integridade pessoal de um jornalista é o começo e o fim dos valores que ele carrega que são determinantes de seu preço no mercado. Para o patrão, a ética aparente pode ser um fator de lucro. Para o jornalista, a ética é fator de remuneração’ (CORNU, 1998, p. 77).

Daniel Cornu observa que o profissional que não separa os princípios e os valores éticos, como o vício da mentira em pouco tempo perde a credibilidade com os seus colegas e suas fontes. ‘O jornalista que mente, assim como o jornalista plagiário, é tecnicamente imprestável: não tem como usá-lo na imprensa’ (CORNU, 1998, p. 77).

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Jornalista, Gurupi, TO