Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A comunicação e o espetáculo do dia-a-dia

A comunicação é algo intrínseco à pessoa humana e está presente desde a pré-história como marca da nossa aptidão como espécie na natureza. Ela evoluiu muitíssimo, sofisticando-se mais e mais numa complexidade social do homo sapiens/demes, interagindo com outras dimensões, como política, econômica, social e cultural. Isso sucedeu de tal maneira que não conseguimos distinguir uma da outra no nosso cotidiano. Assim, a comunicação se tornou condição sine qua non para o funcionamento da sociedade.

Atualmente, em meio à crise de nossa época, a comunicação evidencia-se como espaço humano, muitas vezes limitado, ou seja, condicionado ao mercado, reduzido à informação. Comunicar é informar, informar é produzir (notícia), assim como se produz qualquer outro bem industrial. No processo, exige-se a presença de um profissional, o comunicador. Tal como se espera dele, há uma ação, uma comunicação mínima, pois a indústria midiática faz de tudo para não deixar as engrenagens parar. Desde a fidelidade de uma narrativa seca, superficial e formatada, até a grotesca espetacularização do dia-a-dia.

Nesse contexto, imersos até o pescoço e comprometidos com a engrenagem, os comunicadores tornam-se protagonistas do espetáculo da informação. Eles dirigem, produzem, editam, roteirizam e até atuam, fazendo analogia ao teatro da vida humana. E as informações fluem diariamente em nossas vidas invictas, graciosas, imperiosas como uma ópera nos teatros centrais de nossas demandas, angústias e vazios sociais e individuais.

Valores antagônicos

Cada vez mais imperativos na atualidade, os comunicadores expõem-se na mídia e se limitam ao mínimo – obedecer. E as informações surgem como idéias pré-concebidas sem compreensão da chave sócio-política-econômica-cultural que movimenta a densidade da história. O espetáculo do cotidiano parece ser uma peça infinitamente assistida e jamais questionada sob o fato de ser legítima ou não. Desse modo, a comunicação se fragmenta em pontinhos de informações descontextualizadas, superficiais e sem o caráter vitalício do comunicar: conhecer o mundo, julgar o mundo, agir no mundo; e ainda conhecer o outro, julgar o outro, agir com o outro.

Desse modo, há o imperativo de gerar essas informações-mercadorias no impasse do universo social humano. Tenta-se capitalizar e comercializar a maior das características humanas, a comunicação. Os processos da informação são granulados midiaticamente e simplificados para manter um mercado crescente que adapta o receptor à lógica evidente desse imenso reality show.

O chavão de que a vida imita a arte é bem presente, dado que nossa percepção de mundo é transmitida pelos sistemas de informação que geram conhecimento, cultura e saber. E tudo isso disponível na sociedade de consumo insustentável, predatório e cruel de valores antagônicos às informações, à ideologia, sustentáculo dessas informações. Tudo que vai de encontro ao espetáculo é ridicularizado, minimizado, desvalorizado imediatamente pela sociedade e suas formas de pagamento.

Mudemos a máquina

Por fim, é preciso resgatar a comunicação em seu sentido de se tornar mais interessante e necessária. Restabelecer novos valores sociais onde a informação e seu processo mecadológico não determinem nossa visão de mundo. Devemos sair do caráter de espectadores da peça teatral e voltar ao mundo: ver, julgar e agir. Além disso, cabe aos comunicadores romper com a ideologia da ficção em nome dos donos do poder de produção.

E nós, especialmente os jornalistas em militância, precisamos abordar criticamente as questões evidentes, respeitar os sujeitos que compõem a comunicação. Ter na comunicação, evidentemente, um mecanismo político de transformação dos espaços, das relações livres da tirania econômica, dos processos ideológicos culturais danosos para a maioria da população. Para nós, o desafio é: mudemos a máquina, ou ela nos transformará em graxa de sua engrenagem maldita que faz dos seus servos meras peças do teatro do deus ex machina.

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Jornalista, escritor e pós-graduando em Meio Ambiente e Desenvolvimento na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Itapetinga, BA