Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A conversão do cético

Uma nota minúscula publicada na edição de terça-feira (1/11) do jornal O Estado de S.Paulo diz muito sobre certas birras que a imprensa brasileira produz quando se deixa levar por tendências conservadoras. Diz o texto que o “proeminente físico e cético do aquecimento global Richard Muller” acaba de concluir que a teoria dos 4 mil especialistas reunidos pela ONU para as pesquisas sobre as causas antropogênicas das mudanças climáticas estava correta.

Muller passou dois anos tentando contestar a tese de que a atividade humana altera o sistema climático para, recentemente, concluir que ele é que estava equivocado. O físico americano, da Universidade Berkeley, na Califórnia, descobriu que o solo está cerca de 1,6o C mais quente que na década de 1950.

Nada contra o ceticismo ou a favor da unanimidade. Afinal, na ciência, assim como na política, na biologia e na cultura, a diversidade é sinal de riqueza. Richard Muller, assim como outros céticos, como os cientistas Michael Crichton, Nigel Calder e Bjorn Lomborg, tinham todo direito e até mesmo a obrigação de manifestar suas discordâncias, uma vez que estavam convencidos de que a tese divulgada em fevereiro de 2007 pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) continha imprecisões.

Nota envergonhada

O que se observa aqui é como a imprensa brasileira, de modo geral, dedicou, nos dois anos seguintes ao anúncio do estudo geral sobre o clima, um espaço desproporcional aos céticos, contribuindo para atrasar medidas urgentes de mitigação dos efeitos do aquecimento global.

A nota quase escondida pelo Estadão na verdade não traz uma informação inédita: desde o começo deste ano Richard Muller vem dando pistas de que mudaria de opinião. Já em abril, quando foi levado ao Congresso dos Estados Unidos como “testemunha” do Partido Republicano contra a tese das mudanças climáticas, ele contrariou seus patrocinadores e afirmou que seus estudos preliminares o conduziam a uma conclusão de uma tendência global de aumento da temperatura “muito semelhante” ao que fora anunciado pelos autores do relatório do IPCC. Depois disso, Muller foi abandonado pelos seus padrinhos e pela mídia, e aparece agora confirmando aquilo que todos sabiam.

Se a comunidade científica mundial – contra a opinião de meia dúzia de contestadores – afirma que o sistema econômico global, as políticas urbanas, o modelo agrícola e os hábitos dos consumidores precisam mudar para evitar uma catástrofe, por que razão a imprensa resistiu tanto a aceitar a necessidade de novos paradigmas?

E quando uma de suas fontes de informação mais conceituadas muda de lado, por que essa notícia é escondida em uma nota curta e envergonhada em vez de ser estampada com o mesmo destaque que tinha quando ele contestava a tese do aquecimento?

A pergunta-síntese que não quer calar é: por que, diante de qualquer dilema, a imprensa, de modo genérico, escolhe a alternativa mais conservadora?

 

Observatório da Imprensa na TV

A queda do ministro do Esporte foi provocada por irregularidades no programa Segundo Tempo, uma parceria com ONGs, que tinha o objetivo de democratizar o acesso de crianças, adolescentes e jovens à prática e à cultura do Esporte. Mas o que se viu nas muitas denúncias é que algumas dessas organizações não governamentais, na verdade, foram criadas com o único intuito de lucrar com o projeto.

Na teoria, as ONGs seriam uma ótima saída para solucionar problemas sociais graves que nosso país enfrenta, mas os problemas têm sido tantos, que acabam superando os benefícios. Com isso, várias entidades sérias acabam “pagando o pato”, pois a má fama prejudica a imagem deste tipo de instituição e a captação de fundos fica muito mais complicada. Essa vista grossa, proposital ou não, acaba facilitando a vida de quem está mal intencionado.

Ao deixar o cargo, o ex-ministro Orlando Silva reafirma sua inocência e diz que o Ministério do Esporte já vinha tomando medidas severas para punir os responsáveis e reaver o dinheiro lavado com os desvios.

Mas será que é tão difícil fiscalizar esse setor?

O programa de TV do Observatório da Imprensa desta terça-feira (1/11) vai debater esse tema e avaliar a cobertura recente da mídia, além de discutir os meios que a imprensa tem para fiscalizar entidades e governos e cobrar, sem exageros e maniqueísmos, os responsáveis por desvios de conduta.

Participam do programa, apresentado do Rio de Janeiro por Alberto Dines, Ana Toni, presidente do Conselho do Greenpeace Internacional, e Claudio Weber Abramo, diretor Executivo da ONG Transparência Brasil. Contribuem com o debate por meio de entrevistas gravadas Leriana Figueiredo, coordenadora executiva do Instituto Reação, Rodrigo Baggio, presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e Heloisa Helena Silva de Oliveira, administradora executiva da Abrinq.

O Observatório da Imprensa vai ao ar nesta terça-feira às 22 horas, pela TV Brasil, ao vivo, em rede nacional. Em São Paulo pelo canal 4 da NET e 116 da Sky.