O século 21 é marcado pela era da revolução digital, na qual a internet ganha destaque como o principal meio de comunicação de massa da contemporaneidade. O jornalismo tradicional, preponderantemente informativo, sofreu uma ruptura pós-Idade Média e tornou-se refém de um jornalismo caracterizado por atributos dos períodos histórico seguintes: a modernidade, amante da razão, contextualizada no período pós-ditadura militar, e a atual pós-modernidade, vítima da heterogeneidade marcante pós-anos 80.
O movimento migratório da contracultura para o jornalismo corrobora com a descaracterização da antiga plataforma jornalística, objetiva, colocando a razão em xeque e incorporando um caráter subjetivo à mídia. O jornalismo atual é eucêntrico, colaborativo. Nele, as pessoas saem da subordinação midiáticae desembocam no período de libertação expressiva e racional, portando-se como seres pensantes, capazes de controlar a sua própria narrativa. O cidadão busca construir a sua notícia, o jornalismo participativo vigora.
A crescente guetificação das matérias, a ênfase em notícias hiperlocais, as convergências midiáticas, evidenciadas pela dose de entretenimento até mesmo em jornais tradicionais e considerável participação popular, evidenciam os fatos. Assim, surgem as mídias individuais e sociais. Tem-se o primado da citação, do status. Em um período marcado pelo individualismo e pela concorrência acirrada, os cidadãos buscam editar a própria história, aderindo às benesses do mundo pós-moderno: a rapidez, a eficácia, a transparência, a bricolagem de estilos de pensadores pós-modernos, o pastiche, o nonsense.
É preciso tirar os óculos
Dentro desse contexto, a corrente pessimista do jornalismo alega perder tempo e espaço para os blogs, além de ser confundida com matérias de “baixa qualidade”, acarretando perda de credibilidade. Por outro lado, é o jornalista quem reúne atributos como o preparo profissional e a bagagem cultural necessários para refletir o assunto dentro de uma ampla perspectiva, contextualizando e aprofundando os fatos com conteúdos bem apurados. Ele deve ser o cão de guarda da sociedade e agir a favor do interesse público, da democracia. É certo que, na prática, esbarra em algumas aporias e valores conflitantes como: verdade x lealdade, justiça x compaixão, individualidade x coletividade, curto prazo x longo prazo e muitos optam por atalhos que ultrapassam limites éticos ao ostentar o sensacionalismo, o efeitismo, o hypismo, a superficialidade, a parcialidade, e se curvam a interesses comerciais.
Porém, ainda há uma classe minoritária capaz de abrir flancos, sugerir novas pautas e discutir padrões editoriais e os problemas orgânicos que o atual jornalismo está fadado a não enxergar. Mas é preciso tirar os óculos.
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[Renata Baboni é estudante de Jornalismo, São Paulo, SP]