Foi triste ver o adeus da seleção brasileira nas quartas de final da Copa América. Em sua melhor apresentação durante a competição, o Brasil foi eliminado nos pênaltis pela seleção do Paraguai. Não quero me ater a questões técnicas ou táticas – isso é melhor deixarmos aos “professores”, que há muito deixaram de ser técnicos e agora ostentam o cargo de manager ou “gerente de futebol”.
Está mais do que claro que o problema da seleção não está dentro de campo. Vitórias e derrotas são inerentes a qualquer esporte. A imprensa esportiva se comporta de forma amadora e esse é um dos reflexos do monopólio e da centralização da informação. Os jogadores parecem ser obrigados a falar com repórteres ávidos por uma entrevista exclusiva; essa imprensa esportiva que passa a mão na cabeça quando o comportamento de algum deles foge ao padrão dizendo que são apenas garotos; a mão que afaga e exalta para logo em seguida cobrar com veemência uma postura adulta diante da derrota, concedendo entrevistas exclusivas à beira do campo mesmo que a hora não seja a mais propícia.
Michel Foucault, em sua obra Microfísica do Poder, descreve como os mecanismos do poder são exercidos fora, abaixo e ao lado do aparelho do Estado. Assim como nos mostra a relação de poder e saber nas sociedades modernas com o objetivo de produzir “verdades” cujo interesse essencial é a dominação do homem através de práticas políticas e econômicas da sociedade capitalista. As relações vividas no macrocosmo serão reproduzidas no microcosmo, o problema é estrutural e começa na cúpula da CBF, que volta e meia aparece no noticiário policial e não mais somente no noticiário esportivo, com seu presidente acusado de corrupção, dando entrevistas descabidas, demonstrando um poder incomensurável e se colocando acima do bem ou do mal – compra de terrenos em disputa judicial e até mesmo venda de votos para países que desejam sedia uma Copa do Mundo.
A gente não quer só comida
A seleção já não é mais o lugar para os melhores, as “feras” já não dominam mais o cenário que agora é usado apenas como balcão de negócios para dirigentes e clubes que “jogam” de acordo com a determinação do poderoso chefão, que ao mesmo tempo é escravo dos seus confederados, pois sem os seus votos o monopólio não se sustenta. Esse é o reflexo do mundo globalizado onde as relações são permeadas pelo capital, as regras ditadas pela indústria cultural e o importante é a audiência gerada para quem detém a exclusividade da transmissão de jogos e campeonatos – e o lucro exorbitante obtido pela CBF.
Estamos constatando o fim do futebol arte. Há mais ou menos vinte anos observamos, deitados em berço esplêndido, o nascimento do futebol de negócio, do futebol do marketing, do futebol racional, dos jogadores celebridades, mas esses são o elo mais fraco da corrente. Está na hora de mudar, a renovação não dever ser apenas dentro das quatro linhas, devemos renovar a estrutura inteira, Qual é a responsabilidade social da CBF? Para onde vai toda a grana arrecadada ao longo desses anos? Por que os clubes definham a cada dia? Quem regulamenta a saída de jovens jogadores do país? Como sediar uma Copa do Mundo e Olimpíadas se a educação, a saúde está à míngua? A opinião pública, as autoridades no assunto deveriam se manifestar de forma séria a respeito dessas questões que ficam no ar sem respostas, assim como tantas outras. A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e, acima de tudo, arte.
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[Thiago Corrêa Silva é estudante de Jornalismo, Rio de Janeiro, RJ]