São por demais conhecidas as dificuldades que o autor de livros nesta aldeia tupiniquim enfrenta na hora de divulgar sua obra. Exceto se for famoso ou por qualquer razão circunstancial estiver na mídia. Fora disso, sua missão será espinhosa, tortuosa e, em 99,9%, inútil.
Sou consultor sindical patronal e autor de dois livros versando sobre o âmbito sindical e estou nessa estrada íngreme e pedregosa há mais de 35 anos. Como não pertenço a nenhuma das duas estirpes acima, enfrento insanos obstáculos para o alcance desse mister. Se até aqui ainda consegui alguns resultados positivos, devo-a à tenacidade de enfrentamento.
A exemplo do primeiro (O sindicalismo brasileiro clama por socorro, editado em fevereiro de 2001) este meu segundo livro (S.O.SINDICALpt, lançado em março de 2009) enfrenta essa verdadeira barreira. E foram editados nada mais nada menos pela mais tradicional e uma das mais gabaritadas editoras de livros versando sobre as relações do trabalho, isto é, pela reputada e insuspeita LTr.
A mentira e o embuste
O recente – a exemplo do primeiro – desnuda de forma intrépida os tão incontáveis como insanáveis vícios e mazelas do nosso sistema sindical, cujo modelo data do Estado Novo do caudilho Getúlio Dornelles Vargas, prevalecendo – incólume – até os dias atuais. Imaginem a defasagem e o descompasso, ditados por esses 70 anos… E pontifica por provar seu ainda maior retrocesso no governo Lula, Isto mesmo, do idêntico ex-operário e célebre ex-sindicalista que se notabilizou neste país por suas alocuções extremadas, vociferando por mudanças na estrutura política e sindical, esta última, aliás, sua conhecida escada ascendente ao poder.
Ora, teria sido mais um no lamentável desempenho da velha e surrada retórica reformista não correspondida pelo exercício da prática. E disso o Brasil é campeão insuperável.
Fora do poder, nossos políticos têm uma visão panorâmica merecedora dos maiores encômios. Quando, porém, ascendem ao poder, só faltam dizer clara e abertamente: ‘É preciso mudar alguma coisa para que tudo permaneça como está…’, de vez que, via de regra, sua performance segue esse prisma. Demagogia barata? Descaramento? Falta de coragem para cristalizar oratória com realizações? Tudo isso e muito mais. Mas não vamos perder tempo com essa classe. Num país em que se vota por dever obrigatório, o resultado só pode ser esse mesmo, isto é, a eleição dentro do contexto não da convicção, mas da exclusão. Vota-se no menos pior! Isso em pleitos majoritários porque em eleições proporcionais ganha o mais vocacionado à mentira desabrida, ao embuste ou à distribuição de dentaduras e sapatos (um pé antes e outro depois, se eleito, é claro…).
Distribuição proporcional
Preferiria não ter utilizado o nauseabundo preâmbulo para chegar até aqui. Desculpem. Foi inevitável.
Meu último livro pontifica por provar, com todas as letras, a empulhação feita pelo PT de Lula no campo sindical. Que Lula e o PT se diziam reformistas, isto está gravado desde os tempos dos acalorados discursos de Vila Euclides, no ABC paulista. Não é nenhuma novidade. Ocorre que, além da retórica, há um documento histórico que qualquer mortal poderá constatar, simplesmente consultando os anais da Câmara dos Deputados. Trata-se da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 252, de maio de 2000, apresentada sabem por quem? Pelo deputado Ricardo Berzoini, dois anos antes do PT ascender ao poder, propondo o fim da unicidade e da contribuição sindical obrigatória.
E o que aconteceu após a ascensão de Lula ao governo? Em 2005, o mesmo Ricardo Berzoini – já na qualidade de ministro do Trabalho – apresentaria a PEC 369/2005, absolutamente oposta. Não só não se acabou com a unidade e a contribuição compulsória, como foram oficializadas as centrais sindicais (para se favorecer claramente à CUT, braço direito do PT) e injetar nelas novos e obesos recursos do dinheiro fácil da contribuição sindical. Assim, do rateio dos 20% auferidos pelo Ministério do Trabalho, a metade (10%) passará a ser distribuída às centrais. O que representa isto em cifrões? Simples: da bagatela de estimados R$ 1,3 bilhão, R$ 130 milhões serão embolsados por essas centrais. Como a CUT é a maior delas e como a distribuição é proporcional…
Para parar por aqui. Quem estiver interessado em completos detalhes, leia o livro ou o meu detalhado artigo, dele derivado, sob o título ‘O (provado) retrocesso sindical no Governo Lula’, publicado em 04 de março no Consultor Jurídico ou no Jornal Jurid edição de 10 do mesmo mês.
Jornalismo laudatório
O foco deste comentário é tratar de dados, substanciosos, constatáveis, provados e cunhados não em observações de fundo opinativo, muito menos de reles proselitismo político, mas em fatos, em evidências. Constatáveis no site (e anais) da Câmara Federal. Assim, negá-los seria negar a própria evidência dos fatos. Mas nem assim a imprensa escrita, falada e televisada se dá ao trabalho de divulgar. A aferição de sua importância social – que deveria ser processada em legítimas razões do interesse público em primeiro lugar – é simplesmente ignorada ou relegada a outros fatores nada nobres. Pelo menos, a mídia cibernética (a mais pobre delas) ainda é mais democrática.
A mídia quer, em primeiro lugar, a verba controlada pelo ministro do verbo. A chamada propaganda institucional do governo é distribuída proporcionalmente a quem é mais ou menos condescendente com os detentores do poder. Isso é uma verdade absolutamente irretorquível.
Assim, num país em que o jornal televisivo de maior audiência – caracterizadamente chapa branca – está inserido entre o horário das duas novelas igualmente mais vistas e que o povão geralmente nem vê, pois se não jantar rapidinho não irá assistir à novela das 9 da noite (por isso ou assiste-o na cozinha, sem prestar muita atenção, ou com o prato de comida no sofá), o que se pretende em termos de melhoria qualificada de esclarecimento político? Qual a média da população brasileira que lê jornais, revistas ou livros? Como tal, que possui efetivo esclarecimento? E mais: a imprensa atual dá muito mais importância ao jornalismo laudatório do que o investigativo. Quem ousa contrapor isto?
Um grande palco
Mas os governantes, não acham isso ruim, não. Claro, dissimulam, mas – no fundo – gostam. E como adoram! É como diz a sábia cartilha do político escolado, hábil e refinado: do rico, eu quero a doação, do pobre, o voto.
Além disso, a mídia quer, em primeiro lugar, os recursos oriundos da verba que está, naturalmente, a cargo do ministro do verbo. A chamada propaganda institucional do governo é distribuída proporcionalmente a quem é mais ou menos condescendente. Claro que isso não nasceu no governo Lula, nem vai acabar depois dele. Mas que este é o mais generoso de todos, não há nenhuma dúvida. E o senhor Franklin Martins está atento e, como é óbvio, plugado em tudo o que se lê, se vê e se fala.
Portanto, espaço em jornal, rádio, televisão, mesmo com graves evidências contrárias aos donatários do poder, é inverso ao velho axioma espanhol (Hay gobierno? Soy contra).
O que você sugere como pauta é contrário aos interesses do governo? Perdeu seu tempo. Mas é claro que não será um não explícito. O jornalista culpará o editor, que por sua vez transferirá a não publicação ao diretor de redação. Quando não, virá pelo cansaço ou pela última instância, quando todos se fingem de mortos…
A não ser que estoure um escândalo. Aí ninguém segura. A mídia toda arfará na busca dos detalhes pertinentes, correlatos, afins, conexos e assemealhados. Todos disputando a fonte que possuía indícios dó indigitado acontecimento… Alguns até indagarão, ensandecidos: Onde ela estava? Por que não falou antes?
Portanto, colegas escritores que estão no mesmo barco, esperem o dia em que a doença (que vocês sabem de que eles estão possuídos) vitime mortal e inexoravelmente os donos do poder. Aí a mídia irá procurá-los rapidinho e ouvi-los, em minúcias.
Não parece, mas jornalismo é também um grande palco.
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Consultor sindical patronal