Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A dupla face da credibilidade

Reportagem da Folha de S. Paulo reproduzida na seção Entre Aspas do Observatório da Imprensa denuncia a ‘rede do bispo’ – a Rede Record – pelo que denomina de ‘mais uma seqüência de ataques’ contra o tão probo diário –a própria Folha de S.Paulo. Superando-se em estratagemas conspiratórios, afirma a matéria que a rede Record, por meio de seu jornal Domingo Espetacular ‘usou depoimentos de vítimas da ditadura militar (1964-1985) para repetir críticas ao termo `ditabranda´, empregado recentemente em editorial da Folha e que o jornal retificou a seguir’.

E depois?

‘O programa destacou que a Folha da Tarde, hoje extinta e que pertenceu ao Grupo Folha, apoiava no início dos anos 1970 a repressão do governo contra a guerrilha esquerdista.’

Cabem agora os seguintes questionamentos: em primeiro lugar, ‘ditabranda’, retificado ou não, foi usada pelo jornal, foi um neologismo ou uma designação criada nos bastidores desse jornal. Não caiu do Céu e se materializou à revelia dos chefes de redação, dos redatores da editoria ou das demais burocracias típicas de um jornal que se pretende sério e sem querer caiu, pasmem, no editorial. Mas foi retificado.

Ótimo, que bom, sinal de que foi impresso mesmo e alguém leu.

Segundo, sobre a atuação da Folha da Tarde, a matéria não contempla nenhuma explicação, logo há de se deduzir que o extinto jornal, pertencente à família Frias, apoiava a ditadura e por via de conseqüência podemos concluir que a referida família também apoiava a ditadura, pois o jornal era de propriedade de seu grupo editorial.

Ataques foram após contato

Mais adiante, a matéria reproduzida no Observatório afirma:

‘São resposta(s) a notícias divulgadas pela coluna `Outro Canal´, publicada pela `Ilustrada´. Escrita por Daniel Castro, a coluna tem como foco os bastidores da TV. Em março, Castro divulgou dados de audiência da Record News, canal de notícias da rede, que resultaram favoráveis à concorrência. Sem invalidar a conclusão, parte dos dados continha erro, que foi corrigido em seguida pelo jornal.’

Fica aí reiterado que a Folha admite que produz notícias defeituosas e jornalistas que não lêem o que escrevem e/ou editores que não fazem direito o seu trabalho.

A matéria da Folha afirma, mais uma vez em seu tom de denúncia peculiar, que Castro fora convidado pela emissora em fevereiro para fazer parte de seu quadro de funcionários. Data esta que coincide com a organização de grades das emissoras, ocasião em que uma série de sondagens e contratações acontecem nas emissoras de TV, pois a verdadeira programação, como é sabido, começa em março, logo é natural o acontecido. O que não diz a reportagem é o motivo da não contratação. Quais as exigências de ambos os lados, já que Castro fora sondado pelo departamento comercial da emissora, e não o jornalístico, como é de se supor em um caso desses. Por outro lado, a própria reportagem da Folha afirma que os ataques ao colunista Castro foram após uma publicação desabonadora à rede Record em março. Portanto, após o contato mal sucedido com a Record.

A ‘credibranda’ da Folha

Daí, pode-se pensar de dois modos: o primeiro como a Folha tenta nos induzir, ou seja, a Record ataca a Folha, através da intimidação de um colunista menor que escreve sobre televisão; o segundo foi que Castro não gostou do desfecho das negociações com a Record e resolveu ao seu modo dar o troco. E agora posa de vítima, de perseguido.

Cabe salientar ainda que o Grupo Folha possui entre seus interesses comerciais uma empresa de pesquisas, logo supõe-se que deva saber a correlação percentual existente entre aqueles que lêem as notícia s e aqueles que lêem as erratas e qual a influência das letras garrafais das manchetes e títulos secundários sobre as mesmas e que a influência de uma sobre outra é diferente.

Finalizando, a matéria comenta uma série de demandas judiciais envolvendo a Folha e a Record. Peca em complementar se ainda cabem alguns recursos às partes ou não. Sempre é bom lembrar que a mesma Folha, em ocasião não muito longe da ditadura, ou ditabranda, como preferem alguns, foi obrigada a pagar indenização ao atual presidente da República – Luis Inácio da Silva – por matéria caluniosa, em mais de uma ocasião se não falha a minha memória.

Quanto aos chamados ‘ataques à independência ou não da Folha de S.Paulo‘, poupo a mim e aos possíveis leitores destas linhas a discussão sobre a tão propalada ‘credibilidade’ do jornal Folha de S.Paulo, esta sim uma ‘credibranda’. Por fim, recomendo a leitura do texto ‘O governador e a Pesquisa Datafolha’, de Célio Teixeira, publicado em 7/4/2009, neste Observatório.

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Psicólogo, Curitiba, PR