Embriagado pelo pré-sal, o presidente Lula anuncia e a imprensa publica que vai proibir a expansão de canaviais. ‘O país detém hoje 7,8 milhões de hectares (78 mil quilômetros quadrados) de plantações de cana-de-açúcar. A previsão do governo é que essa área cresça 86% até 2017. Para isso, serão necessários 6,7 milhões de hectares (67 mil quilômetros quadrados) extras para o cultivo’, constata a jornalista Marta Salomon (Folha, 17/09).
O etanol é uma realidade brasileira que continua surpreendendo o mundo. A partir do desenvolvimento do motor a álcool no CTA/ITA, em São José dos Campos, onde pontificou o pesquisador Ernesto Stumpf, viabilizou-se a expansão do etanol e o cultivo da cana-de-açúcar. A necessidade de expansão dos canaviais, no entanto, é também uma resultante da falta de investimentos governamentais no aumento da produtividade do plantio e do próprio motor a álcool.
No contexto internacional, em extensa análise do setor energético, Jad Mouawad, colunista do New York Times, observa o comportamento dos principais players internacionais do setor e extrai conclusões sobre o caminho das energias nos próximos 30 a 40 anos. Segundo ele ‘o governo Obama deseja reduzir o consumo de petróleo, aumentar os suprimentos de energia renovável e diminuir as emissões de dióxido de carbono naquela que é a mais ambiciosa transformação da política energética no período de uma geração’.
O governo Obama deseja investir US$ 150 bilhões (o mesmo que gastou a Nasa para levar o homem à lua) nos próximos dez anos para criar aquilo que chama de ‘um futuro energético limpo’. E já providencia a liberação de US$ 30 bilhões para o início deste programa. O seu plano tem como objetivo diversificar as fontes de energia do país ao encorajar o uso de mais fontes renováveis para reduzir o consumo de petróleo e as emissões de carbono oriundas dos combustíveis fósseis.
Sobriedade nas decisões
As gigantes mundiais do setor petrolífero nunca investiram significativamente no desenvolvimento dos programas de energia renovável. E aqui também a Petrobrás usa o mesmo figurino, investindo muito pouco em fontes energéticas renováveis. O etanol brasileiro tem sido um sucesso porque a iniciativa privada nele acreditou e investiu. E agora, com a embriaguez do pré-sal, o etanol vai ficar mais órfão dos órgãos públicos de fomento econômico-financeiro.
Sem apoio governamental para aumentar a produtividade do cultivo da cana-de-açúcar por hectare, os proprietários de canaviais que ousarem expandir a área das plantações vão correr o risco de multas de até R$ 50 milhões, além da ameaça de bloqueio da sua produção. Por falta de investimento na otimização do uso do álcool combustível nos motores através da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico, o consumo e a performance dos motores continuarão os mesmos de hoje.
O presidente Lula deve estar desgostoso por não ter conseguido derrubar as barreiras para exportação do etanol brasileiro. E assim afasta-se deste insucesso trocando-o pelo petróleo do pré-sal que poderá jorrar daqui a 15 anos. A evolução do contexto mundial, no entanto, sob a liderança dos Estados Unidos, poderá abrir as portas para o etanol brasileiro. Apostar nele e em outras fontes de energia renovável já em uso no Brasil é pule de 10, é a realidade de hoje. E do presidente da República exige-se sobriedade nas decisões que afetam os milhões de brasileiros que nele acreditam e no futuro do Brasil, que é de todos.
******
Jornalista, São José dos Campos, SP