O Pulitzer de 2004 marca o fim de um ano cheio de contratempos para o mercado jornalístico americano. É essa a visão, essencialmente otimista, de Holly Yeager [The Financial Times, 5/4/04]. Muitas publicações tiveram de enfrentar problemas de credibilidade e crescente falta de confiança do público. Essa crise não estava no ar um ano atrás, quando o New York Times foi o grande vencedor. Ainda não haviam descoberto as fraudes do então repórter Jayson Blair, assim como o ex-editor-executivo Howell Raines, ele próprio um vencedor de Pulitzer, ainda não havia deixado o jornal – já que pediu demissão por causa do escândalo.
Histórias de plágios e fabricações começaram a pipocar nos EUA após o caso Blair. O caso mais recente é do ex-correspondente internacional Jack Kelley, do USA Today, que fraudou pelo menos oito reportagens importantes, inclusive uma que lhe pôs entre os finalistas do Pulitzer de 2002. Blair e Kelley poderiam ser anomalias raras no meio jornalístico, mas, de acordo com Robert Rivard, editor do San Antonio Express-News, um dos membros externos do comitê que descobriu as fraudes de Blair, ‘o que antes pareciam incidentes isolados agora estão se mostrando parte de uma tendência maior à fraude’.
Apesar de pulularem idéias sobre como resolver o problema – desde a contratação de revisores aleatórios de reportagens delicadas até a adoção de um ombudsman –, escândalos da imprensa infelizmente não devem estancar tão cedo. Assim como também não são exatamente novidade. Em 1981, Janet Cooke, do Washington Post, ganhou um Pulitzer por uma matéria sobre uma criança de oito anos viciada em heroína que, descobriu-se afinal, não existia. Em tempos ainda mais remotos, o próprio NYTimes quis se retratar quanto a falhas nos artigos do ex-repórter Walter Duranty, que em 1932 ganhou o Pulitzer pela cobertura da miséria na União Soviética naquele ano.