Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A espiral do silêncio e o goleiro

A espiral do silêncio é uma teoria da comunicação proposta pela alemã Elisabeth Noelle-Neumann sobre os efeitos dos meios de comunicação de massa. Sua tese é de que os indivíduos cujas opiniões sejam minoritárias tendem a permanecer calados, por receio de isolamento social vindo da maioria das pessoas.

Pressupõe-se, com essa hipótese, que os meios de comunicação formam ou, pelo menos, contribuem decisivamente para a opinião pública.

A opinião a respeito do goleiro Rogério Ceni é um dos exemplos mais evidentes de como esta teoria funciona.

O goleiro do São Paulo tem uma carreira bem sucedida, mas já cometeu falhas grotescas pelo seu clube, inclusive em jogos decisivos, e pela seleção brasileira. Ou seja, um goleiro bom, que nunca mereceu a titularidade na seleção canarinho, pois sempre houve guarda-metas mais capazes que ele para defender nosso país. No atual momento, o jogador não deveria nem ser convocado para o banco de reservas.

Quem o via apenas batendo falta, considerava-o o melhor atleta da posição. Porém, se você analisá-lo debaixo das traves, e sem paixão futebolística pelo São Paulo ou por Rogério, percebe que ele não é tão eficiente.

Relembrando falhas

No entanto, boa parte da imprensa, principalmente a paulista, insiste em posicionar-se a favor do arqueiro tricolor na seleção brasileira. Podemos notar que quando este atleta falha, os comentaristas paulistas se calam.

Na partida deste domingo entre São Paulo 2 x 2 São Caetano, Rogério falhou nos dois gols do azulão, mas a imprensa paulista estranhamente não notou. Criticar este arqueiro num programa esportivo é praticamente um pecado.

Vale lembrar que o são-paulino foi convocado em amistoso contra o Barcelona e tomou um gol bisonho. Ao jogar por seu clube, o ‘melhor do Brasil’, para a bancada são-paulina, já falhou diversas vezes.

Se falarmos somente de jogos decisivos, podemos relembrar da falha do arqueiro do Morumbi na final da Libertadores contra o Internacional no Beira-Rio, do gol de falta sofrido por Léo Lima diante do Palmeiras no Palestra Itália na semifinal do Paulistão, e do gol que tomou de André Luís na final do Paulista de 1997 contra o Corinthians no Morumbi.

Influência da mídia

Enquanto isso, o goleiro titular da seleção, Júlio César, vem se destacando na Inter de Milão e salvando a seleção brasileira. Pela Inter, o goleiro sofreu 21 gols em 22 jogos na temporada 2008/09 pelo campeonato italiano. Pelas eliminatórias, o arqueiro sofreu cinco gols em 12 jogos e salvou o Brasil de um vexame diante do Equador, em Quito.

Não raro de se ver, a primeira atitude tomada por Rogério Ceni ao sofrer um gol é reclamar do bandeirinha.

Diante de todo esse quadro, grande parte de jornalistas paulistas defende a presença de Rogério na seleção, e desmerece Júlio César. Sem falar dos milhares de torcedores são-paulinos que pregam pelas discussões futebolísticas que o goleiro do São Paulo deveria ser o goleiro da seleção. E ai de quem discordar. É a influência da mídia formando a opinião do público.

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Jornalista, São José dos Campos, SP