Hoje (5/2) completam-se 25 dias desde que aconteceu a catástrofe em Teresópolis e cidades vizinhas. Os sobreviventes já nem são entrevistados ao vivo; no entanto, é incontestável que a dimensão gigantesca do desastre e a tristeza de que todos os que foram acometidos deram margem a que os repórteres das grandes corporações nacionais praticassem, mais uma vez, sua política de entrevistar pessoas que choram pela perda dos parentes e dos bens antes que elas se acostumem com o ocorrido.
Para eles (e seus superiores hierárquicos), pouco importava se um habitante da região serrana do estado do Rio que queiram entrevistar não esteja em condições de falar sem ficar com a voz embargada e os olhos marejados: entrevistavam-no mesmo assim. Que necessidade há em fazer perguntas a alguém que perdeu tudo? A de confirmar algo evidente, o sofrimento? Ninguém deveria entrevistar um indivíduo que se encontre numa situação desse tipo tão cedo, mas em todos os verões há jornalistas que façam esse trabalho! Não têm senso de delicadeza. Pelo visto, não o adquiriram na universidade.
Ajuda é imprescindível
É inaceitável o argumento de que uma atitude tão desprezível faz parte do seu trabalho: o jornalismo é uma profissão nobre e não há nobreza alguma em arrancar palavras de quem está arrasado para preencher o tempo de um jornal. Mas a falta de sensibilidade não foi a única coisa revoltante: a forma artística de explorar o desastre também foi. No dia 14 de janeiro de 2011, o Jornal Hoje superou as raias da falta de bom senso: o telejornal foi encerrado com imagens da destruição que sobreveio nesta parte do país acompanhadas por um fundo musical triste, certamente para comover. Ora, jornal nenhum deve comover; todo jornal deve apenas informar. Naturalmente, se o conteúdo de uma notícia comove, não é culpa do jornal, mas comover pelo estilo de transmitir imagens e sons é função da arte, e não do jornalismo. Não bastavam os fatos para que houvesse audiência e dinheiro dos anunciantes dos intervalos comerciais? Fundo musical e imagens tristes em encerramento de jornal são desnecessários, irritantes, abomináveis.
Contudo, espera-se que Teresópolis e as cidades vizinhas possam se recuperar do abalo; que a ajuda chegue a quem precisa; e que mais e mais pessoas ofereçam ajuda, pois ela é imprescindível numa realidade tão aniquilante.
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Estudante, Teresópolis, RJ