Alguma publicação, equipe de profissionais ou ONG fez um balanço da violência, da baixaria, das irregularidades e dos crimes cometidos ao longo da temporada eleitoral encerrada no domingo (26/10)?
O noticiário no dia da votação, na noite da apuração e no decorrer da segunda-feira (27) concentrou-se no óbvio e nos dados oficiais: resultados das urnas e balanços operacionais dos TREs. Sequer fez-se o levantamento nacional das abstenções para identificar uma possível pressão em favor do voto facultativo.
Neste tipo de jornalismo burocrático, oficialesco, não sobra lugar para examinar possíveis irregularidades no desempenho da mídia. Ficou de fora a atuação das autoridades federais em cidades-chave [ver ‘E a imprensa fez que não viu‘, neste Observatório] e, como não poderia deixar de acontecer numa imprensa altamente concentrada e corporativa, não houve preocupação em registrar comportamentos abusivos de determinados veículos.
Consignaram-se apenas reclamações de alguns candidatos derrotados – Marta Suplicy contra a Justiça Eleitoral e Fernando Gabeira contra repórteres que captaram e divulgaram trechos de uma conversa telefônica.
O trabalho dos marqueteiros foi apenas tangenciado e isso porque a maior gafe da temporada foi cometida por um deles (as duas perguntas sobre a vida pessoal de Gilberto Kassab).
Boa prática
No primeiro turno ficaram visíveis algumas manipulações: O Estado de S. Paulo torceu abertamente a favor de Geraldo Alckmin e O Globo, contra Marcelo Crivella. Encerrada a primeira fase, optou-se pela prudência.
Em Belo Horizonte, a imprensa geralmente pró-Aécio (e desta vez sem o policiamento do PT) manteve a tradição, mas não conseguiu impedir o segundo turno. Em Porto Alegre a RBS fez uma clara opção pelo candidato antipetista José Fogaça (PMDB). Em nenhum desses casos foi adotada a praxe jornalística americana de declarar apoio formal ao candidato da preferência do jornal.
No âmbito das sondagens, a Folha de S.Paulo não conseguiu resistir à tentação de supervalorizar o parceiro, o instituto Datafolha, deixando de oferecer ao concorrente, o Ibope, o espaço para defender seus métodos e resultados. Como já aconteceu em outras ocasiões, a excessiva identificação do jornal com uma empresa de pesquisas coloca ambos sob suspeição (mesmo que o Ibope tenha falhado em alguns episódios decisivos).
Desafios a vencer
A Rede Globo prestou novamente um enorme serviço publico ao organizar um mega-fórum de 23 debates simultâneos com impecável organização e nível técnico.
Resta lembrar que o processo democrático não se esgota com a proclamação de resultados eleitorais. Permanecem em aberto questões como a posse dos ‘ficha-suja’ e o acompanhamento intensivo das câmaras e governos municipais. São desafios que uma imprensa-cidadã tem condições de vencer, mas inalcançáveis à ‘indústria’ jornalística.