É muito difícil captar uma identidade nacional. Para começar, nações são comunidades imaginadas. O território que as demarca é, evidentemente, concreto. Vigoram nesse território leis que devem ser obedecidas mesmo por quem as desconheça. Mas ninguém pode sonhar em conhecer pessoalmente 200 milhões de habitantes, nem 20 milhões, nem 2 milhões, nem 200 mil, nem 20 mil.
A comunidade é estabelecida na mente de cada indivíduo.
Não há povo homogêneo. Diferentes gerações convivem num mesmo espaço de tempo. As afinidades entre ricos e pobres são tênues. Mulheres são diferentes de homens. A língua pode ser a mesma – caso singular do Brasil, entre países de grande população −, mas a maneira de usá-la varia. E assim por diante.
Entretanto, sempre podem ser percebidos traços de um certo caráter nacional.
No caso brasileiro há, por exemplo, o famoso “jeitinho”. Nelson Rodrigues julgava ter captado um “complexo de vira-lata”. Houve quem dissesse que o Brasil é resultado da combinação de três raças tristes: autóctones, portugueses e, por incrível que pareça, africanos. Mário de Andrade consagrou Macunaíma.
Tudo é ainda muito provisório, porque se trata de uma nação nova, que ainda não chegou aos 200 anos de constituição formal. Mas não deveria haver dúvida quanto à variação constante dos humores nacionais. Ora otimistas, ora pessimistas.
A mídia é a grande propagadora do sentimento coletivo de cada momento. Agora, entramos numa fase meio depressiva. A economia não crescerá como esperado pelo governo. A criminalidade berra na porção mais sensacionalista de noticiários que deveriam ser mais sérios. No exterior, dizem jornais, o cacife desta terra não está mais tão alto.
Não vale a pena acentuar ziguezagues emocionais. Primeiro, evolução da economia não se mede no curto prazo. Isso é método de Bolsa de Valores. No acumulado desde o marechal Deodoro até Lula, como diz o professor Chico de Oliveira, a economia brasileira cresceu 4,6% ao ano. No contexto atual, o país enfrenta em melhores condições uma dura crise americana e europeia que ameaça se agravar. A democracia não corre riscos imediatos.
Por isso, as análises agora pessimistas, feitas pelos mesmos que dois meses atrás eram otimistas, devem ser lidas e ouvidas com reserva. A mesma reserva a ser usada para filtrar análises otimistas, daqui a dois meses.
Conselho de Comunicação
Ninguém poderia esperar que o presidente do Senado, José Sarney, fosse usar métodos universalmente aceitos como democráticos para nomear os integrantes do Conselho de Comunicação Social do Congresso.
O mais importante é que o Conselho voltará a se reunir. E que podem ser endereçadas a ele sugestões de temas para debate, denúncias e propostas para melhorar a legislação brasileira, que está desatualizada e frouxa, no que diz respeito à radiodifusão. Emissoras de rádio e televisão fazem o que querem, embora alguns ainda reclamem que não podem fazer o que gostariam de fazer. Ainda bem.
O STF na berlinda
Na terça-feira (24/7) os jornais deram manifestação da corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, sobre o fato de que o Supremo Tribunal Federal será julgado ao julgar o mensalão. Ministros do STF rebatem, no noticiário de quarta-feira (25/7): “Ela fala o que pensa” (isso é crítica ou elogio?); “O STF é julgado sempre que julga” (mas quantas pessoas estão preocupadas em saber se sociedades profissionais devem pagar ISS fixo ou variável conforme o movimento econômico?).
Na quarta-feira, Roberto Jefferson usa seu estilo inconfundível para afirmar, na Folha de S.Paulo, que não será condenado, nem preso. Segundo ele, a pedra de toque do processo é a condenação ou não do ex-ministro José Dirceu. Seria impossível, por exemplo, condenar Dirceu e absolver Jefferson. Ou vice-versa. Jefferson, de caso pensado, afronta o ministro Joaquim Barbosa. É para criar um elo fraco. Pode dar certo, ou, como se diz na linguagem de Jefferson, pode dar chabu.
Não importa. A imprensa deve cumprir, nesse processo, uma de suas mais relevantes funções: transmitir o maior número de opiniões ao maior número de pessoas.