Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A hegemonia do jornalismo-urubu

A realização dos Jogos Pan-Americanos, no Rio de Janeiro, provocou, entre outros efeitos, o surgimento de uma nova escola jornalística: o jornalismo-urubu. Embora na verdade não seja algo novo, pela forma hegemônica como tem se expressado na cobertura do Pan, ao que tudo indica fincou raízes profundas nas redações, em especial dos jornais O Globo, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo.

Não estou falando sobre o questionamento quanto ao custo das obras – este é um ponto que precisa mesmo ser bem apurado –, e sim sobre a cobertura em geral, quase sempre mal-humorada e buscando problemas e defeito em tudo.

No caso dos jornais paulistas, nenhuma novidade: afinal, quando se trata de falar sobre o Rio de Janeiro, o provincianismo sempre predomina. Por conta disto, independentemente da opinião de técnicos e atletas, não há um único aspecto relacionado ao Pan do qual a cobertura não seja de crítica negativa.

É permanente a torcida de grande parte da imprensa paulista para que tudo dê errado. É uma mistura de jornalismo-urubu com jornalismo-espírito de porco. Mas, como diria a plebe rude e ignara: ‘A inveja é uma m*&$%@erda’ (com a devida licença do Agamenon Mendes Pedreira).

Propagandas hollywoodianas

No caso de O Globo, o estilo jornalismo-urubu em relação à cobertura da editoria Rio, já era sua principal característica antes mesmo do Pan. Mas, ao que tudo indica, a realização dos Jogos contribuiu para superdimensionar qualquer dado negativo. Ao que parece, o repórter já sai da redação com a obrigação de produzir uma matéria negativa, na tentativa talvez de criar mais uma modalidade esportiva para os Jogos Pan-Americanos: o falar mal da cidade por centímetro/coluna.

O que explicaria este comportamento do jornal O Globo? Discordância quanto à realização do Pan no Rio? Raiva da cidade? Ou fustigar o principal responsável pela vinda dos Jogos e adversário político do jornal?

Naturalmente, sem defender que os jornais se tornem panglossianos, ignorando a realidade, não tenho dúvida que este tipo de jornalismo-urubu, que procura desgraça em tudo, somente afasta os leitores, que conhecem muito bem a realidade e não são facilmente iludidos por propagandas coloridas e hollywoodianas.

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Jornalista, Rio de Janeiro, RJ