Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A hora da reforma política

Na reportagem ‘Mamãe, eu quero mamar’ (Veja, ed. 2207, 9/03/2011, p. 45), o jornalista Fábio Portela cita o filósofo Denis Rosenfield, para quem ‘… os partidos se tornaram federações de interesses regionais. A maioria está empenhada apenas em conquistar ou manter os poderes em seus pequenos feudos estaduais ou em defender sua própria burocracia partidária. O PT, por exemplo, não defende os interesses dos trabalhadores, mas os da cúpula das centrais sindicais’. E Portela conclui: ‘O Brasil tem, hoje, 22 siglas com assento na Câmara Federal e nenhuma com independência absoluta em relação ao governo.’ Parafraseando o escritor Bernardo Guimarães (1825-1884), a característica mais presente nos partidos políticos brasileiros hoje em dia é certo espírito de cobiça e de sórdida ganância, sem que se lhes possam dissociar lampejos de velhacaria.

Não é o que se vê no Congresso Nacional quando se assiste aos dois canais TV Câmara e TV Senado? Quem acompanhou a votação do projeto que definiu o valor do novo salário mínimo em R$ 545,00 deparou com situações que comprovam a tibieza das nossas agremiações políticas. Comecemos pelo PT. O partido, que em outros tempos se autointitulava defensor dos trabalhadores, naquela sessão submeteu os valores de outrora aos interesses do Planalto e, com seus aliados, manteve com larga margem de votos a orientação imposta com mão de ferro pela presidente Dilma Rousseff. Amparado por uma aliança impensável quando era oposição, o PT tentava, em vão, justificar o seu comportamento com discursos fugidios diante das câmaras de televisão e dos sindicalistas presentes às galerias das duas casas legislativas – que se manifestaram em ruidosa desaprovação contra a decisão que mandou para as calendas gregas os interesses daqueles que o PT dizia defender.

Sem esmorecer

Agora, a oposição. O PSOL, o PSDB, o PPS e o DEM, aproveitando a saia justa em que os partidos da base de apoio do governo se encontravam naquele momento, não deixaram por menos – colocaram mais lenha na fogueira. Segundo o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), seu partido propôs um mínimo de R$ 700,00, para o que contou com as assinaturas do ‘PSDB, PPS e DEM para permitir que a emenda tramitasse. Mas, no plenário, o Vicentinho, que era o relator, considerou a nossa proposta inconstitucional, sob o argumento de que incluía a retroação do reajuste. E havia um acordo’ (leia). O estranho consórcio apresentou outras propostas que variaram de R$ 560,00 a R$ 600,00, além daquela sugerida pelo PSOL, sem que seu apelo sensibilizasse os partidos governistas. Uma mistureba e tanto (de um lado e do outro) que só comprova o quanto os conceitos de esquerda e direita no Brasil não passam de meras referências retóricas.

É contra essa deformação que devemos nos colocar. Não é possível aceitar por mais tempo tamanha indignidade na vida pública do país. Discute-se ultimamente a urgência de uma reforma política e, no Congresso Nacional, jê se criaram até comissões para estudar propostas com tal objetivo. Difícil é encontrar entre os brasileiros quem acredite em algum político que pretenda mudar o sistema atual. Como indicam os dados do site Brasil Portais-Rede de Portais Regionais, ‘(…) mais de 300 proposições sobre reforma política circularam no Congresso nos últimos 20 anos e nenhuma foi votada até hoje’ (leia). Sei que não é fácil mudar a cabeça acomodada dos nossos congressistas. Ainda assim, não devemos esmorecer. Temos a nosso favor as novas tecnologias da informação (a internet, a rede mundial de computadores, os meios de comunicação) com as quais, tenho certeza, seremos capazes de cutucar os nossos representantes na Câmara e no Senado… Eles sabem que a conectividade entre as mídias está aí mostrando ao mundo cada vez mais a sua força!

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Jornalista, Salvador, BA