A relação entre professores e seus alunos no âmbito erótico já foi descrita como um tabu pelo filósofo Theodor Adorno em Educação e Emancipação, 1995. Por vezes, os professores, principalmente no caso masculino, atingem o imaginário erótico de alguns alunos(as). Na maioria das vezes, entretanto, o interesse é apenas platônico e essa atração despertada pelos mestres se associa à imagem do professor como criatura não sexuada. Entretanto, mencionamos aqui três filmes estadunidenses que trazem imagens de professores sexuados: O preço de uma escolha (1996); Legalmente loira (2001); e O homem da casa (2005).
Sobre a imagem que esses filmes trazem dos(as) professores(as), Barros afirma que uma relação fulcral entre História e Cinema pode se constituir considerando esse último enquanto representação: “Através de um filme, representa-se algo, seja uma realidade percebida e interpretada, ou seja um mundo imaginário criado livremente pelos autores (…)” (Teoria e Representações Sociais no Cinema, 2008). Com a difusão, a nível global, do cinema hollywoodiano, acreditamos ser de bastante relevância atentar para a imagem de professores construída nesses filmes. Também é importante notar que, mesmo trazendo tais personagens, não podemos chamá-los de “filmes de professor”, dado que as figuras centrais das películas não o são e estas giram em torno de outras temáticas.
O preço de uma escolha é um filme realizado para TV (HBO) com três histórias, passadas em épocas diferentes, concentradas em torno do eixo aborto. Numa das tramas, no ano de 1996, uma universitária grávida, Christine Cullen (Anne Heche), recebe do pai do bebê, seu professor Jim Harris (Craig T. Nelson), apenas um aporte financeiro, provavelmente para realizar um aborto. A jovem, inocente, acreditava que talvez o mestre terminasse seu casamento e assumisse o bebê em um relacionamento sério. Provavelmente demais para um homem de meia idade que se valeu do fascínio que exercia sobre a jovem aluna. A trama gira em torno da realização ou não do aborto. A imagem docente é a do professor sexuado.
Relações sem simetria
Já em Legalmente loira, uma jovem “patricinha” vê seu relacionamento terminado pelo fato de seu noivo a considerar fútil. Para desfazer tal imagem a mesma resolve se matricular na mesma faculdade em que seu ex vai estudar Direito. No desenrolar da trama, o professor Callaham (Victor Garber) tenta seduzir sua jovem aluna Elle Woods (Reese Witherspoom) depois de esta ter se mostrado talentosa. O que não dá resultado. Tal prática faz com que a personagem se sinta ultrajada. No fim da história, Elle acaba preterindo dois de seus pretendentes: o antigo noivo Warner Huntington III (Matthew Davis), que a havia rejeitado por achá-la fútil, e o professor galanteador, que ela considera mau caráter.
O homem da casa tem sua trama girando em torno de um grupo de universitárias, líderes de torcida, que testemunham um crime. O policial Roland Sharp (Tommy Lee Jones) se apaixona e se casa com a professora Molly McCarthy (Anne Archer). Esta lecionava para uma das alunas, testemunha que Sharp devia proteger. A professora universitária Molly é uma mulher separada e madura. Seu ex-marido, ao que a personagem indica, se deixou levar pela oferta de “alunas novinhas” da universidade. Assim, temos a imagem do professor sexuado associada à imagem da professora solitária.
Nos três filmes, temos a imagem do professor sexuado. Aquele que se envolve com suas alunas afetivamente. São relações sem simetria: os professores não se encantam com as alunas e abandonam tudo para ficar com elas. A relação é instrumental e momentânea, sendo provavelmente dissolvida quando surja outra aluna mais jovem e mais bonita. É evidente que o professor sexuado não é a única e nem a mais forte imagem de professores que há no cinema, mas não deve ser desprezada, pois existe.
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[José Alexandre da Silva é professor de História da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED), membro do Grupo de Estudos em Didática da História (GEDHI) e mestrando em educação pela UEPG]