Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

A imprensa, de ressaca

Talvez seja uma sensação tipicamente brasileira, essa de que todo ano tem dois começos: o 1º de janeiro e o primeiro dia útil após o carnaval. E na sexta-feira pós carnavalesca (27/2), os jornais parecem estar iniciando novamente o ano de 2009, sem sinais de que as redações tenham imposto a si mesmas aquelas resoluções típicas de réveillon: as edições do dia parecem jornais velhos sobre a mesa.


Até mesmo o anúncio do orçamento americano para o primeiro ano do governo recém inaugurado de Barack Obama cai no cenário déjà-vu do período pré carnavalesco. O leitor fica sabendo que Obama prevê um déficit de quase 2 trilhões de dólares, mas os jornais não lhe explicam o que isso tem a ver com a sua vida.


A única diferença de abordagem é a da Folha de S.Paulo, destacando desde a manchete que o orçamento do novo governo dá prioridade à questão social. Os outros jornais destacam a continuação do esforço de guerra no Afeganistão e as medidas financeiras.


Fontes interesseiras


As grandes multinacionais anunciam novos balanços negativos, e o leitor já sabe que nos próximos dias virão outros balanços igualmente negativos, à espera da contabilidade final da crise.


No Brasil, parece que o carnaval varreu junto com os confetes e serpentinas toda aquela indignação com as imoralidades do Congresso. O PMDB, colocado sob os holofotes por uma entrevista do senador Jarbas Vasconcelos à revista Veja, perdeu a briga pelo controle do bilionário fundo de pensão dos funcionários da empresa Furnas. Mas não há sinais de que tenha arrefecido sua sede por boas e lucrativas posições junto ao poder público – razão de ser de sua existência, segundo Vasconcelos.


Parece que, em vez de aproveitar o recesso oficial para aprofundar investigações e reflexões sobre a corrupção, ou estudar o cenário econômico para oferecer ao leitor uma visão mais ampla da crise, os jornalistas caíram na folia.


O retorno dos factóides, a manifesta dependência de fontes interessadas e interesseiras para obter informações e a falta de continuidade nas coberturas de fôlego dão a impressão de que a imprensa cansou.


Ou está de ressaca.