Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A imprensa do Norte e Nordeste

Que tal fazer uma discussão sobre a imprensa no Norte e Nordeste? Porque é um absurdo que um hospital totalmente equipado em Alagoas fique fechado por cinco anos, se deteriorando, em meio a essa crise da saúde no estado, e a gente só fique sabendo disso agora, cinco anos depois. Cadê a imprensa desses lugares que não cobre esses fatos? Da mesma forma as pontes da Gautama… parece que elas só surgiram agora.

Em 1988, estive em Natal e João Pessoa. O que mais me chamou a atenção foram as obras inacabadas, interrompidas, suspensas, enfim, elefantes brancos que com certeza ocultavam desvios de verbas públicas. Quando a gente comentava com as pessoas, elas falavam: ‘Ah, faz tanto tempo que estão aí… ninguém sabe quem fez, quem vai terminar…’.

Quando perguntei a um jornalista de lá se era difícil arrumar trabalho na imprensa, ele disse: ‘Você consegue trabalho fácil. No começo não vai ganhar muito, mas depois de uns três meses, você entra na caixinha do senador, e aí seu salário vai lá em cima’. E eu brinquei: ‘E o que a gente precisa fazer em troca, falar bem dele?’. E ele: ‘Só precisa não falar mal’.

Ou seja, esta era a imprensa naquela época. E acho que continua assim, pois os políticos são donos de todos os jornais, rádios e TVs do Norte e Nordeste. Coisas erradas continuam acontecendo, obras inacabadas ou que não funcionam continuam surgindo, mas ninguém noticia nada.

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A grande imprensa do Rio e São Paulo quase teve uma ataque de histeria com a decisão de absolver Renan Calheiros. Só faltou dizer que o Brasil acabou ali, naquela fatídica sessão do Senado. Menos, senhores, menos. O problema está em que Veja, Estadão, Folha e Globo, além de pautar a notícia, a cobertura, além de expor em linhas bem escritas suas opiniões e interpretações, querem também pautar condutas, decisões, votos no Congresso. Além da opinião publicada – dos seus proprietários e escribas – se atribuem, sem modéstia e sem meios-tons, o direito de externar a totalidade da opinião pública.

Até o momento em que Calheiros foi atingido pelo raio justiceiro da mídia, ninguém havia mencionado seus erros e pecados. De um dia para outro, entretanto, transformaram-no em perigoso cangaceiro, capaz de cometer todos os delitos, todas as velhacarias. Sob o fogo cerrado da mídia, o senador foi a julgamento pelos seus pares em sessão secreta, uma regra sábia para garantir que ninguém irá decidir sob pressão, inclusive da ‘opinião pública’. E julgar não significa decidir segundo a pauta e a vontade do jornalão ou da revistona.

A decisão do Senado pode ser uma vergonha ou um absurdo. Mas é legítima e soberana – e corajosa. É preferível uma casa de representantes do povo que tome a decisão errada do que uma que se dobre às pressões da mídia ou da ‘opinião pública’. (Tito Guarniere, jornalista, Porto Alegre, RS)

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Acordei hoje (quarta, 13/9) ansioso pelo jornal. Sou assinante do Estado de S.Paulo há muitos anos, desde que me conheço por gente, hábito adquirido por influência de meus pais. Estava curioso para saber qual seria a manchete após a indecência ocorrida no Senado Federal na véspera. Queria ler a opinião na terceira página, ver a indignação estampada nas páginas do jornal – enfim, queria vida.

A revolta ao ver a omissão do jornal foi indescritível. A manchete, burocrática, relatava o acontecido sem nenhuma dose de horror ao ocorrido. Pior ainda foi ver que o editorial desse tradicional e fundamental jornal sequer tratava do assunto! Repito, sequer tocava no assunto!

Será que enlouquecemos? Perdemos a capacidade de nos posicionar, de questionar, de exigir vergonha e respeito à mais alta instância do Legislativo?

O senhor Calheiros não apenas é um representante do povo no Senado Federal, ele é o presidente do Congresso! Esse cidadão, alheio à realidade estampada na mídia de todo o país durante quatro longos meses, foi absolvido por seus parceiros – e, por que não dizer, cúmplices – naquele que deve ter sido um dos episódios mais vexatórios da história política nacional, e um dos principais jornais do país sequer aborda o assunto em seu editorial?! Adoraria saber o porquê.

Acendi uma vela pelo Senado Federal: 12 de Setembro de 2007 foi o dia de sua morte. Acenderei outra pelo Estadão. (Paul Erik Schabbel, economista, São Paulo, SP)

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Quero fazer uma observação ao termo usado pela imprensa que qualifica a CPMF como ‘imposto do cheque’. Isso nos traz uma informação falsa, faz pensar que será cobrado o imposto apenas quando se opera com cheque, uma vez que a CPMF taxa as operações bancárias de diferentes naturezas. Eu, como tantos outros trabalhadores que recebemos nossos salários via banco, somos também taxados com esse maldito imposto.

Estou fazendo este comentário porque a maioria dos brasileiros é levada a pensar erradamente pela forma que é usada a expressão ‘imposto do cheque’, pois essa taxação não incide apenas nas operações do cheque. Como a imprensa tem o objetivo de informar e esclarecer a sociedade, peço que esse termo ‘imposto do cheque’ seja abolido para não mais nos trazer uma informação errônea. (Jackson Peixoto, assistente administrativo, Fortaleza, CE)

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Não gosto de enquetes. Elas nos limitam. Perguntar qual o maior compromisso de um jornalista e oferecer as três opções que o OI oferece é certeza de resultado. Está claro que a grande maioria vai opinar como sendo com a sociedade o maior compromisso do jornalista. Mas como os profissionais podem fazer isto no seu dia-a-dia quando é a empresa quem lhe garante o pão de cada dia e a fonte é quem detém o poder da informação e quase sempre pelo cargo ocupado? O resultado da enquete vai provar isto. (Gilberto Gonçalves, jornalista, Campinas, SP)

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A maioria das enquetes tem apresentado um texto por demais capcioso e dúbio, denotando uma certa má-fé. De forma que qualquer que seja o resultado, este pode ser interpretado de acordo com as conveniências de quem a elaborou. Senão vejamos: ‘Qual é o maior compromisso da mídia?’, a resposta, num contexto de ideal (de dever ser), seria a sociedade. Entretanto, num contexto de realidade verificável (de ser), seria a empresa. Como corrigir tais distorções? Certamente, dá margem a deturpações oportunistas. Isso não se faz! Sejam mais honestos! O texto da outra enquete sobre um confronto entre governo e mídia foi rídiculo, podendo ser usado contra o governo, quando a intenção de quem respondeu afirmativamente o tem como vítima. (Gustavo Morais, servidor público, Barreiras, BA)

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Não votarei desta vez pois entendo que a pergunta não está bem formulada: ‘Qual o maior compromisso de um jornalista?’ Entendo que a pergunta deveria ter outra formulação, conforme as duas opções a seguir: ‘1. Qual tem sido hoje, na prática, o maior compromisso de um jornalista?’ (com as respostas a escolher). Eu responderia: com a empresa. ‘2. Qual deveria ser o maior compromisso de um jornalista?’ (com as respostas a escolher). Eu responderia: com a sociedade. Obrigado pela atenção, do leitor/votante assíduo do OI na internet e dos programas da TV. (Dermeval Netto, jornalista, Rio de Janeiro, RJ)

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Parabéns pelo novo horário do programa Observatório da Imprensa na TV. Agora, nós, que temos que levantar cedo, podemos assistir a este excelente programa. Finalmente os ótimos programas da TV Cultura estão ao nosso alcance, quanto ao horário. (Lisete Conceição de Araujo Fejes, funcionária pública, Ribeirão Preto, SP)

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Quando temos uma imprensa tímida, vulnerável, compromissada com governos em função de verbas direcionadas por estes, o que sobra para o povo ? Isso tudo que está aí: lixo, só lixo. A maior arma de um povo é indubitavelmente a imprensa. Se esta adoece, o povo sofre. Se esta se entrega, o povo é encarcerado. Que levantem-se todos os homens investigadores/repassadores da informação e formadores de opinião em prol da moralidade, da verdadeira justiça e da democracia plena e instigante de tudo que saudável é. Rogamos nós, povo pacífico, silencioso, tímido e de cabeça baixa, uma injeção de ânimo da imprensa. Acorde imprensa brasileira… vocês são do povo para o povo. Nada mais. (Santiago Couto, técnico, Recife, PE)

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Ouvi demais a discussão sobre fundo partidário, mas toda a imprensa só falava em porcentagem e nunca sobre os valores. Por que será? Por que a imprensa brasileira tratava como perigoso o caso de o italiano Silvio Berlusconi ter os meios de comunicação e ser presidente ao mesmo tempo, porém o golpe virtual que tentaram contra o Hugo Chávez ninguém condenou, nem o tal canal de TV e nem o seu dono? Fui a favor do Chávez, só que ele exagerou um pouco. Parabéns pelo melhor programa da TV brasileira. (Adeilton Cardoso, desempregado, Nanuque, MG)

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Jornalista, São Carlos, SP