Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A imprensa entre o normal e o natural

O que vemos em nossa contemporaneidade midiática é uma tentativa, até certo modo bem-sucedida, de entrincheirar a verdade e fazer o cidadão refém de uma ‘agenda nacional’ muito bem esquematizada e regida pela chamada grande imprensa brasileira.

Não só paus e pedras garantem a vitória em uma batalha. A propaganda e a contrapropaganda também. A informação errada ou a desinformação causam um grande dolo ao oponente. Causa insatisfação, insegurança, intranqüilidade e principalmente desconfiança dos envolvidos nos seus governantes. É de praxe que se atinja o moral dos adversários, enfraquecendo-os através da desinformação. Confundem-se as idéias, as causas e as razões, podendo até se criar um pânico nas linhas oponentes. É um terrorismo sem bombas ou mortos, apenas reféns – reféns da verdade (ou mentira).

Torna-se impossível fugir ao velho jargão de que as idéias ‘dominantes são aquelas das classes dominantes’. No nosso caso, aqueles que tentam, a todo custo, nos impor suas idéias através de seus arautos possuem tamanho descaramento que até um fórum criaram para sacramentar oficialmente aquilo que de fato já acontece.

A imprensa assume para si o papel de oposição a um governo democraticamente eleito, e sonega à sociedade um bem precioso – a informação. A mercadoria que vendem e propagam em todos os lares, seja através dos programas televisivos ou através dos jornais, chega ao consumidor final adulterada, enviesada, com ranhuras.

Concessões públicas para interesses privados

Contando com a desinformação do grande público e com a sua pouca malícia política, todas as regras são quebradas para que se garanta um benefício ao candidato opositor do governo atual.

Quando empresários concorrentes se reúnem e ao seu bel-prazer resolvem o que é melhor para seu público e assemelham sua mercadoria, quem perde é o consumidor. O nome disso é truste. A nossa Constituição possui um verbete de bom tamanho para enquadrar aquelas companhias que se unindo tentam a todo custo monopolizar o mercado garantindo para si o controle absoluto do mercado.

A questão é que a mercadoria vendida, em questão, não pertence aqueles que a comercializam, mas sim, à população. Os cidadãos têm direito a serem bem informados, a imprensa possui o dever de incluir o contraditório nas informações que transmite aos seus leitores ou telespectadores. Que poder é este, dos donos da mídia, que se sobrepõe aos demais interesses da população, à qual, por definição, deveria servir?

Estes senhores organizam suas próprias leis e se julgam em um patamar mais elevado que os demais e estão impunes. Esta manifestação em prol do candidato da oposição, deixado claro pelas palavras do presidente da ANJ, fragiliza o Estado de Direito em que vivemos, pois parte do pressuposto de que aqueles que vendem a notícia estão acima das demais instituições da sociedade.

No entanto, e ironicamente, se faz vista grossa ao escândalo que é usar concessões públicas para interesses privados. Acostumou-se, neste país, a acreditar que aquilo que parece normal, natural passa a ser, mas não é. O poder da imprensa é um poder concedido pela sociedade à qual ela serve e cabe a ela monitorar aquilo que de direito lhe pertence, e não ao contrário.

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Psicólogo, Curitiba, PR