Na sexta-feira (1/12) o mundo voltou-se contra a Aids. Aquele foi o dia mundial de combate à doença que tem sentenciado jovens, mulheres casadas e a terceira idade a entrarem na fila em busca do coquetel de medicamentos, que apesar dos efeitos colaterais garante uma vida prolongada.
O mundo voltou-se para a doença, mas a televisão brasileira não. Ao observar os canais abertos, tudo permanecia normal. Ficou a impressão de que, no Brasil, a Aids pouco importa, e que são poucos os 650 mil infectados. Naquela data, a Rede Globo exibiu um Globo Repórter cuja pauta versou sobre as finanças da classe média, pessoas que ganham pouco, mas sabem utilizar bem o dinheiro. Que reportagem inédito, não?
E pauta interessante é o que não falta em relação à Aids. O Globo Repórter poderia ter feito uma reportagem especial sobre o programa brasileiro de combate a Aids, elogiado e copiado ao redor do mundo. Mas o descaso não se restringe à emissora dos Marinho: a Bandeirantes também poderia ter reservado uma hora que fosse para algum programa temático em relação a Aids, idem a Rede Record e o SBT, mas as emissoras preferiram ignorar a data e manter a sua grade normal e o espaço para os seus anúncios. É triste, pois são os canais de maior audiência no Brasil e foram incapazes de, num único dia do ano, alterar sua programação para tratar de uma epidemia que assola o planeta.
Longe dos problemas
Mas nem tudo é cinza na TV brasileira. Mais uma vez quem marcou ponto foi o canal MTV Brasil, que dedicou parte de sua programação para exibir dois documentários relacionados ao HIV-Aids. O primeiro, programa exibido às 21 horas de 1/12, intitulado 48 fest, reuniu jovens de vários países para fazer em 48 horas documentários de 5 minutos com a temática do combate a Aids. Houve resultados interessantíssimos: vídeos que trataram da camisinha na África, a homofobia, a agressão domiciliar à mulher obrigada a fazer sexo sem preservativo, o preconceito entre os jovens, os mitos relacionados ao contágio, entre outros enfoques.
Em seguida, foi o exibido o documentário Sexy press, com produção assinada pela MTV brasileira em parceria com as filiais latino-americanas, e o conteúdo foi singular. Três países foram escolhidos: México, Brasil e Jamaica e suas respectivas capitais. Pôde-se conhecer como vivem os homossexuais na Jamaica, onde são perseguidos, queimados e obrigados a viver na clandestinidade; e assistir a um transexual mexicano falar sobre preservativos. O programa foi um acerto: o canal é basicamente dirigido ao jovem, mas o especial foi abrangente e tratou de todos os segmentos.
Infelizmente, enquanto a MTV fazia a sua parte em relação ao Dia Mundial do Combate à Aids, os canais abertos continuaram com a sua programação letárgica e de costas para uma data que lembra uma epidemia que se alastra pelo mundo. Nesse quadro, o Brasil é uma exceção: aqui o número de infectados não diminuiu, mas pelo menos se estabilizou. Nem isso foi dito.
Os outros canais não foram capazes de fazer especiais para o jovem, para a família ou para a terceira idade, pois hoje não há mais ‘grupos de risco’ e sim ‘situações de risco’. No que tange a problemas sociais, fica claro que a nossa televisão tem muito a caminhar e a aprender.
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Jornalista (São Paulo, SP)