Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A linguagem ‘inclusiva’ e suas contradições

O jornal do Senado Federal de 21 de junho de 2004 traz em sua página 6 o seguinte artigo: ‘Serys: ‘faxina’ nos termos que discriminam a mulher’.

Lá diz que a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) elogiou a Comissão de Constituição e Justiça pela aprovação do projeto de lei que torna obrigatório o uso da chamada linguagem inclusiva em falas e em documentos (PLC 102/02). Também informa que a senadora julga ser o momento oportuno para que o país realize uma verdadeira ‘faxina’ em toda a legislação para retirar os termos discriminatórios.

Por último o artigo traz alguns exemplos de ‘linguagem inclusiva’ (LI) em contraposição à linguagem usual (LU):

1. LU – os direitos do homem; LI – os direitos humanos;

2. LU – aeromoça; LI – atendente de vôo;

3. LU – língua materna; LI – língua de origem;

4. LU – os professores; LI – o professorado;

5. LU – denegrir a imagem de alguém; LI – difamar alguém;

6.) LU – a situação está preta; LI – a situação está ruim;

7. LU – os brasileiros; LI – o povo brasileiro;

8. LU – reunião de pais na escola; LI – reunião de pais e mães na escola.

Eu pergunto, são expressões ‘sinônimas’, não são? Pois bem:

1. Se a mulher não está no ‘homem’ da LU nº 1, por que haveria de estar na ‘humanidade’ da correspondente LI? Não deveria ser ‘os direitos da humanidade e mulheridade’? Ou melhor, os direitos do homem e da mulher?

2. Não existe aeromoço? Já estão até falando em rodomoço para não demitirem os atuais cobradores de ônibus do município de São Paulo, quando todos os passageiros de ônibus passarem a usar o bilhete eletrônico;

3. Língua materna é expressão discriminatória? Todos nós não viemos de uma mãe?

4. Professores não inclui as professoras? Só o professorado é que o faz? Então teremos também o ‘trabalhadorado’ (no lugar de trabalhadores), ‘agricultorado’, (agricultores), ‘vereadorado’, ‘senadorado’ et ‘ceteradorado’…

5. Quem sugere uma LI dessas para substituir aquela LU não está afirmando que denegrir é o mesmo que difamar? Não está essa pessoa afirmando que tornar negra a imagem de alguém é algo ruim? (ih! Pessoa é feminino, não é discriminação também?);

6. De novo?

7. Por que não põe logo o finado bordão do Sarney?

8. Ué, agora estão pondo a mãe? Pais não inclui mãe? Reunião de pais e mães não seria pleonasmo?

O problema não está em como se diz certas coisas? Pelo que estão querendo fazer, a expressão ‘fazer faxina’, então, também não seria uma LU que deveria ter uma correspondente LI? Não parece igualmente discriminatória?

Se for assim, expressões como recuar, acuado, amarelou (tão usada agora no futebol!), idiomatismo (sabe da confusão que o Aldo Rebelo criou com o Millôr Fernandes só porque este disse que coisas como essas são idioletices? Antes que alguém queira me processar, veja o que isto quer dizer e outras informações no site www.millor.com.br) não deveriam ser revistas também? E grego idem, pois é um termo turco que significa subjugado. Os gregos se denominam helenos, mas o mundo todo não os chama assim, chama-os de ‘subjugados’.

Enfim, por que razão não se chamam os especialistas para tratar disso? Mas acho difícil esta lei ‘pegar’, porque (infelizmente) estamos no país em que algumas leis pegam e outras não, e quando pegam geralmente não há punição e, quando há, só pobres são presos.

Por que não fazem uma lei para acabar com essa vergonha de 90 dias por ano de férias remuneradas para os congressistas?

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Tecnólogo mecânico, São Paulo