Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A luta entre Mayweather e Pacquial

Já nos disse Guy Debord em 1967: vivemos na sociedade do espetáculo. Quase cinquenta anos depois, a espetacularização dos diversos sistemas que compõem as relações humanas está superpotencializada. A mídia que já na época de Debord era um dos principais elementos que faziam o espetáculo atingir seu objetivo de manipulação política e incentivo ao consumo, hoje adquire uma força quase inimaginável.

Um exemplo que mostra bem a associação entre mídia e espetáculo é o que acontece com o esporte, o telejornalismo esportivo e as transmissões esportivas. Para ilustrar esse exemplo, abordarei aqui a luta de boxe realizada no sábado (2/05) entre o americano Floyd Mayweather Jr. e o filipino Manny Pacquiau. Sob a alcunha de luta do século, o evento pagou para Mayweather, vencedor do confronto, 180 milhões de dólares, enquanto Pacquiau recebeu 120 milhões. Essa é a maior bolsa da história do boxe.

Realizado em Las Vegas, nos Estados Unidos, o combate levou para a tradicional cidade turística centenas de jornalistas, milhares de visitantes e muitas estrelas do esporte e do entretenimento, entre elas Michael Jordan, Mike Tyson, Denzel Washington e o cantor, ex – The Police, Sting. O evento foi transmitido para os quatro cantos do mundo, principalmente, através do pay per view, que é quando se paga para assistir algo específico na televisão.

Não critico aqui o talento dos dois lutadores, mas é necessário falar de como a mídia se apropria e é apropriada para fazer com que as pessoas gastem dinheiro com certos tipos de situações. No caso dessa luta, o esporte e o entretenimento, espetacularizados ao máximo, estiveram tão misturados que não deu para dissociar um do outro.

Gerar dinheiro e entreter

A cobertura jornalística destacando o dinheiro envolvido no evento, a caracterização dos lutadores (Mayweather, o ostentador, e Pacquiau, o homem de família e religioso) criaram os personagens e o contexto que ajudaram a instigar as pessoas a quererem saber o fim dessa história, semelhante aos filmes com mocinhos e malvados (lembremos de Rocky Balboa).

Todos esses ingredientes somados deram resultado. A luta foi um sucesso. O lucro foi alcançado e muita gente, além dos donos do evento, também ganhou dinheiro. Mas, e o esporte? Como fica nessa situação?

Bom, o esporte, neste contexto, serve apenas para gerar dinheiro e entreter, sendo “vendido” assim pela mídia. O potencial poder de promoção de bem-estar físico e mental e de transformação social é totalmente deixado de lado em detrimento da exaltação do dinheiro, do sucesso, da vitória, do recorde e das imagens que atraem o olhar a qualquer custo para capturar a audiência, vender mais espaço publicitário e assim comercializar mais produtos, gerar lucro e garantir que essa roda continue girando.

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Raul Ramalho é jornalista