Será que os jornalistas esportivos jogaram a toalha? Explico a pergunta. Segunda-feira, dia melhor para as matérias esportivas, não há. Rodada completa do Campeonato Brasileiro, das ligas internacionais, Pan do Rio batendo na porta, competições de basquete, enfim, overdose de esporte. Vou lá, então, apreciar tanta diversidade de informação e conhecimento.
‘No primeiro tempo, o Cruzeiro ficou abaixo da crítica e levou um passeio do Corinthians’, revelava o mineiro Estado de Minas na edição de segunda, 21 de maio. Realmente, o Cruzeiro jogou muito mal e o time paulista mereceu a vitória. Passei para outro jornal mineiro, Hoje em Dia, exemplar de mesma data. ‘O Cruzeiro apenas assistiu ao Corinthians em campo. Palavras do próprio treinador do time mineiro, Dorival Júnior, ao avaliar os 3 a 0 sofridos dentro de casa, pela segunda rodada do Campeonato Brasileiro’. Por fim, dou uma navegada na internet e acesso o site da Folha de S.Paulo. ‘Com uma defesa segura e a rapidez nos contra-ataques, o Corinthians esteve melhor em quase todo o primeiro tempo. Por outro lado, o Cruzeiro se mostrou um time lento, que facilitava a forte marcação.’
Talvez os leitores já estejam acostumados com a padronização das coberturas esportivas. Pois não deveriam. O esporte é movido pela factualidade, por acontecimentos que se sobrepõem, mas isso não impede que jornalistas preparem textos com narrativas mais aprofundadas e criativas. A repetição das palavras não suscita ou agrega coisa alguma ao leitor. A função social do jornalismo, de prover criticidade, fica explicitamente em segundo plano. É como se um modelo já estivesse pronto nas redações e a cada dia fosse apenas preenchido. Falta criatividade, falta contexto, falta jornalismo.
A bola, brinquedo mágico
E para aqueles que devem estar se perguntado: ‘Como fazer a cobertura de um jogo de futebol diferente?’ A resposta vem com Nelson Rodrigues ao relatar um episódio do jogo Brasil x Uruguai, da Copa de 1950, trecho do noticiário Manchete Esportiva.
‘Imaginem o que não sentiu o juiz do match Brasil x Uruguai, ontem, no Maracanã. Foi caçado a tapas, a pontapés pelos orientais. Já a agressão em si mesma, a correria e o susto traduzem uma dessas experiências terrenas que marcam para sempre. (…) Trata-se, pois, de uma humilhação impressa, irradiada, televisionada, filmada. Pode-se desejar provação mais horrenda?’
Infelizmente, se o jogo Cruzeiro e Corinthians fosse narrado em tons literários, provavelmente, o texto não seria bem aceito. A magia que envolve a literatura e o esporte foi aos poucos abandonada pelos grandes veículos de massa. O que importa é saber a tática dos times, a declaração dos jogadores, dos técnicos. Todos os jogos parecem iguais. Nenhum deles tem algo especial, nenhum tem uma individualidade a ser explorada. E isso não ocorre somente com os relatos futebolísticos, mas em todos os esportes.
A mesmice é geral. Onde estão as reportagens críticas? O próprio Pan do Brasil entrou numa onda de propaganda nos veículos que chega a dar nojo. Como se sua organização estivesse perfeita, uma perfeita cena de Alice no País das Maravilhas. Poucos se atrevem a falar dos atrasos, das greves, das péssimas condições de trabalho. Interesses econômicos andam reinando, como sempre, por aqui.
Mas alguns poucos guerreiros ainda teimam em ficar em pé. Armando Nogueira é um exemplo. Jornalista e cronista esportivo, disse uma vez que ‘a bola em si é um elemento fascinante, é um brinquedo sedutor, é um brinquedo mágico, que adiciona poesia e lirismo na sua relação com o homem’. Revistas, dentro de seus limites, também vão além do óbvio. Lembram da minha primeira pergunta, no topo do texto. Ainda acho que é possível tratar o esporte de uma maneira mais jornalística. A missão está conosco, estudantes de jornalismo, que somos tão fascinados por esta editoria.
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Estudante Jornalismo da Universidade Fumec, Belo Horizonte, MG