Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

A máscara e o enredo

A saída de Luiz Carlos Prates da RBS TV de Santa Catarina levou-me a uma série de divagações e análises a respeito do papel do comunicador, sua função na sociedade e relação com a empresa para a qual trabalha. Prates sempre apresentou opiniões contundentes, mas numa delas passou dos limites, ao criticar a compra em maior escala, devido à conjuntura econômica, de carros pelas classes média e baixa.

Sentado em seu trono na poderosa RBS, Prates imaginou ter acertado na mosca ao misturar elitismo com crítica forte ao consumo das classes trabalhadoras. Verdadeiro absurdo cometeu o comunicador, pois os grandes grupos de comunicação engordam seu caixa através da publicidade realizada pelos fabricantes de carros. Foi um rompante que certamente agradou a quem quer simplesmente flutuar em modernas caminhonetes por rodovias, estradas, avenidas e ruas sem qualquer transtorno e ‘carros proletários’ à frente. É o máximo do conforto. Afinal está na hora de limpar a via pública de carros com mais de dez anos de idade, imaginam os obcecados por ostentação da riqueza.

Conservadorismo e apelo direitista

No caso do jornalista, em particular do comentarista ou colunista, há uma ligação umbilical entre os assuntos abordados e a linha editorial da empresa, pois trata-se de exposição direta de opiniões ao público. Neste palco, o enredo pode engolfar num redemoinho de controvérsias o artista, o comunicador. A máscara usada pelo ator nem sempre agrada aos demais protagonistas da peça. Quando esta insatisfação atinge os dramaturgos, os patrões, o artista pode acabar defenestrado. A comunicação pode engolir o comunicador no momento em que ele se joga incauto no papel de defensor de ideias indefensáveis.

A máscara de Prates gerou uma antipatia terrível, pois milhões de brasileiros trabalham duro meses a fio e economizam para comprar carros, mesmo que usados. A história então ficou complicada para a empresa, pois ovos e tomates podres foram jogados para cima do comentário elitista de Prates. Os donos da peça, aqueles que comandam o enredo, deram um pé na bunda do artista que até vinha agradando em diversos momentos, apesar do seu conservadorismo e apelo direitista, mas a contundência do comentário deu a entender que havia sido ultrapassado um limite, o do bom senso.

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Jornalista e funcionário público, Osório, RS