Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A melhor hora de Kotscho

Depois que o colunista do Globo Jorge Moreno deu em primeira mão que o jornalista Ricardo Kotscho deixará de ser o secretário de Imprensa de Lula (cumprindo-se o acerto entre ambos pelo qual o velho amigo do presidente não ficaria em Brasília para a segunda metade do mandato), os jornais lembraram em coro que Kotscho foi voto vencido na infausta decisão de cassar o visto do correspondente do New York Times Larry Rohter, por causa da matéria sobre a suposta preocupação nacional com as bebericagens de Lula, de que o governo acabou voltando atrás.

Discordou, disse publicamente que discordara e aceitou a decisão vencedora. Foi a sua melhor hora no Planalto. Dele, graças a isso, sai inteiro – o que fica difícil dizer de outros que ali continuam.



Outra federação em pauta

Saíram pelo menos dois artigos condenando comparações favoráveis ao Brasil em relação aos Estados Unidos nos quesitos fraude eleitoral e prevalência do voto popular na escolha do presidente da República (‘uma pessoa, um voto’ aqui, eleição indireta lá).

Este leitor, por exemplo, escreveu que a comparação se sustenta e que aos estudiosos cabe explicar por que o Brasil, com tão poucos anos de democracia, tem eleições presidenciais mais representativas da vontade da maioria do que a bicentenária democracia americana.

Uma das vozes discordantes, que considera o cotejo ‘pueril, e sobretudo jeca’, acusa os defensores da posição contrária de ignorar ‘o que seja uma federação’ (a qual, por meio dos representantes estaduais que compõem o colégio eleitoral, faz valer a sua hegemonia na escolha dos ocupantes da Casa Branca).

O ponto de vista não-jeca, implicitamente, é que federação é necessariamente sinônimo de democracia. Citado por este leitor, o New York Times, que de jeca não tem nada, acha que não é bem assim e que a democracia americana só terá a ganhar se o colégio eleitoral for abolido.

Ninguém tampouco dirá que o ex-presidente Fernando Henrique é jeca ou não saiba o que é federação e democracia. Eis o que escreveu domingo passado, na sua coluna mensal no Estado e no Globo:

‘A democracia americana, sempre referida à Constituição e à vontade dos patriarcas (os founding fathers), é muito mais a expressão de um pacto entre os Estados e suas oligarquias do que de um pacto popular’.

[Textos fechados às 17h30 de 7 de novembro]