Relendo o livro Jornalistas e revolucionários nos tempos da imprensa alternativa, do jornalista Bernardo Kucinski, sobre o período da ditadura militar, percebe-se que nos últimos 30 anos a profissão de repórter vem perdendo tesão, poesia e paixão. Na obra de Kucinski está explícita a vontade e a ousadia de jornalistas de lutarem contra o poder, na tentativa de reabrir o país para a democracia.
Hoje, verifica-se que a profissão mais parece um balcão de negócios. Não adianta pensar que os tempos são outros, o sistema é outro ou a vida mudou. A profissão continua a mesma. Ou será que mudou também? O que observamos hoje é que em muitas regiões a imprensa evoluiu, em outras, pelo contrário, retornou ao clima de censura das informações.
Há censores nas redações de jornais, rádios e emissoras de televisão. O poder de governo dita o que deve ser lido e ouvido pela sociedade. O Acre, estado governado pelo PT desde 1999, é o retrato mais fiel dessa relação promíscua entre governo, empresários de comunicação e jornalistas. Há exceções, é claro, mas mínimas. Nessas exceções ainda há gestos de dignidade com a informação. A grande maioria vende ao mundo a mentira de um estado virtual em pleno desenvolvimento, um povo alegre, onde não há miséria, desemprego, violência e por ai vai. Já chegaram a dizer que ‘o Acre é a Finlândia do Brasil’.
Os empresários de comunicação estão ganhando muito bem para espalhar a mentira aos quatro cantos do mundo. Na realidade, a população de Rio Branco, capital do Acre, deveria ser a mais politizada e cultural do país. Com apenas pouco mais de 350 mil habitantes, a cidade comporta quatro jornais diários. Três deles recebem mensalmente do governo para falar bem da administração. Chega a ser tão ridículo que as matérias produzidas pela assessoria de imprensa do governo são publicadas na íntegra, com os mesmos títulos, as mesmas fotos e, às vezes, nas mesmas páginas.
O pior dos bandidos
Jornalistas que não rezem pela cartilha do governo são perseguidos, repreendidos e até demitidos. Não adianta estrebuchar. Manda quem pode obedece quem tem juízo. A frase até poderia estar correta se não fosse voltada para uma classe guerreira que é a dos jornalistas. Durante os quase oito anos de governo do PT, muitos jornalistas foram embora do Acre e outros penduraram a chuteira, ou seja, largaram a profissão e foram fazer outra coisa menos perigosa. Quando se fala em perigosa significa não ser ético com você mesmo e com a sociedade carente da verdade.
Chega a ser um acinte à população acreana quando o governo apresenta proposta orçamentária para os setores da educação, saúde ou segurança. Nos últimos anos tem sido assim. A prioridade está na divulgação institucional do PT. A violência, a fome, a miséria, educação, saúde… são relegadas a segundo plano. Não tem importância. Bertold Brecht, quando escreveu O analfabeto político, tinha toda a razão, e a mensagem vai para os empresários que se vendem por migalhas para esconder as verdades. O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem de decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância, nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior dos bandidos, que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o lacaio dos exploradores do povo.
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Jornalista