Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A mídia e a formação de leitores

Quem não lê, não fala. (Domingos Pellegrini, escritor)

Uma das pautas recorrentes na grande mídia é a educação brasileira, em especial, a formação de leitores. Formação essa que na maioria das vezes é questionada pela mídia, quanto a qualidade e quantidade. Mas será que esses mesmos meios de comunicação que tanto cobram melhorias na educação têm contribuído para que o Brasil avance nesse tema?

Será que as emissoras de rádio e TV, que atingem realmente a grande massa, em sua maioria carente de uma boa formação, têm, como previsto na Lei de Radiodifusão Brasileira, criado programas que além de entreter também eduquem?

Em rápida análise pode-se perceber que é praticamente nulo o incentivo da mídia eletrônica para a leitura. Nenhuma das cinco grandes redes de televisão do país (Globo, Record, SBT, Band, RedeTV) tem sequer um programa fixo, ou até mesmo interprogramas, dedicado ao incentivo da (à) leitura, com entrevistas de escritores, dramatização de textos etc. Raríssimas vezes um telejornal reserva uma reportagem, ou nem mesmo uma nota coberta, sobre um livro. Mal e mal é noticiado quando morre algum escritor considerado de grande relevância.

Formação de leitores

A grande justificativa mais uma vez seria a baixa audiência, mas será que realmente assuntos como esses teriam audiência baixa? Um programa interessante, com bastante dinamismo, atrairia sim esse grande público carente de leitura. ‘Se a televisão brasileira quisesse transformar este país num país de leitores conseguiria isto em um ano de programação. Acontece que a maioria das
pessoas que fazem televisão no Brasil não têm pelo livro a chamada paixão mobilizadora’ [Ziraldo, in http://www.google.com.br/search?q=pa%C3%ADs+de+leitores&hl=pt-BR&lr=lang_pt&start=20&sa=N em 17/06/2006. 1999].

A TV Cultura, de São Paulo, tem algumas iniciativas interessantes na área como interprogramas, nos quais trechos de obras de autores são lidos e aparecem em animação na tela durante os intervalos comerciais, além dos ‘Contos da Meia Noite’. Outro exemplo é a série ‘Livros Animados’, do Canal Futura. ‘Agora, num país de tanta pobreza, você fazer um programa de leitura numa TV fechada dá uma certa tristeza. Tinha que ser na hora do programa do Ratinho, na televisão dele. Há tantas maneiras de se falar do livro de maneira eletrizante!’ [Ziraldo, idem]. O alcance desses programas é ainda ‘tímido’, por serem veiculados em canais educativos e/ou em emissoras fechadas.

A mídia impressa também não fica trás. Na maioria dos jornais brasileiros reserva-se apenas uma página, geralmente aos sábados ou domingos, para dicas de livros. Muitas vezes essa dica também é apenas um mero Ctrl+C e Ctrl+V dos releases enviados pelas editoras. E talvez, no máximo, uma dezena de jornais possua suplemento ‘literário’ que realmente aprofunde e ajude na formação de novos leitores, contribuindo para a melhoria educacional brasileira.

A ressaltar o trabalho desenvolvido pelo caderno ‘Mais!’ (Folha de S.Paulo), ‘Prosa e Verso’ (O Globo) e ‘Idéias’ (Jornal do Brasil).

Mundo da leitura

Mesmo assim, esses cadernos acabam tendo uma visão restrita e uma linguagem que nem sempre consegue atingir o público, já que seriam ‘uma representação deste mercado [editorial], fruto de uma visão de mundo de quem os produz e participa deles’ [Travancas, Isabel. O Livro no Jornal: Os suplementos Literários dos jornais franceses e brasileiros nos anos 90. Rio de Janeiro: Ateliê Editorial, 2001. Pág. 148]. Mesmo assim, a publicação desses suplementos ‘para seus respectivos jornais significa prestígio (…) ressalto que eles podem contribuir muito para a imagem de seus veículos’ [idem, pág. 150].

Se os suplementos literários trazem prestígio aos jornais impressos, supõe-se que programas televisivos que abordassem o mundo literário, se bem produzidos e comercializados, também gerariam prestígio e até mesmo retorno financeiro para a emissora, supondo que seu público seja qualificado.

Está na hora de nós, jornalistas, contribuirmos para melhorar essa situação. Sugira pautas ligadas à área, entreviste autores, sejam novos ou já conhecidos, busque informação no mundo da leitura, utilize da literatura para enriquecer suas reportagens. Quanto mais familiarizado o público estiver com o mundo da literatura, mais fácil será construir um país de leitores.

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Jornalista, pós-graduando em Docência do Ensino Superior pela Universidade Cândido Mendes e educomunicador