Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A mídia tradicional como espaço alternativo

É só abrir um jornal e o que mais aparece são textos e artigos falando da falta de ética de algum político, envolvido em maracutaia, sua falta no caráter, de ética, a decência. Não se fala de forma geral, mas específica a determinado parlamentar.

Todos já assistiram algum candidato falando em honestidade, moral, ética e que discursa como se já as tivesse, não? Podemos não ser especialistas em traços fisionômicos, mas depois de décadas de experiência em lidar com pessoas, nosso inconsciente já detecta os traços que traem a imagem que o ‘pregador’ tenta passar e ficamos desconfiados do seu discurso.

Esse é o problema que está acontecendo com a nossa mídia. Fala-se tanto em necessidade de qualidades nos parlamentares, mas fazem de tal maneira que nosso inconsciente já detecta que a prática e a prédica do discurso não coincidem – e ficamos desconfiados. Ao tentar passar esse sentimento que tanto desejamos, mas que não se manifesta em seus procedimentos, todas as informações, até as legítimas, ficam comprometida. Falsus in unum, falsus in omnibus, falso numa coisa, falso no todo.

Espírito de rebanho

Todos conhecem a história daquele menino mentiroso, que prega peças e constrange a todos, mas chega um momento em que ele está se afogando e ninguém lhe dá atenção. É isso que está acontecendo com a imprensa: daqui a pouco ninguém irá acreditar nela. Por que será que os órgãos de imprensa não se olham e agem até pelo bem das coisas boas? Por que eles se encharcam com as ações de políticos velhacos e grupos de interesses?

E a missão do verdadeiro jornalista em passar informação e emitir opiniões com espaços para múltiplas escolhas? Perderam também a direção dos valores que receberam desde a infância, e agora, como adolescentes enfastiados, resolvem afligir sofrimentos nos outros porque acham divertido? E aqueles sentimentos nobres que tanto se associam aos deuses das religiões? Foram vilipendiados para atender interesses menores que perderam a eficácia, ficaram obsoletos?

Desde ‘antigamente’ as religiões se dão ao trabalho de criar um espírito de rebanho nas pessoas para melhor controlá-las e justificar que o rei governa por desígnios divinos. Hoje elas se associam com a imprensa nesse trabalho de desinformar e sustentar uma ideologia onde os brancos é que sabem governar e cabe a eles o direito de exercer esse poder.

Sem volta

Terá a imprensa que passar por um vácuo de 40 anos (da fábula de Moisés) para depurar e retornar aos verdadeiros valores pela qual ela existe? Um fato já está consumado: ela não terá mais a mesma força de antes. A natureza, como ocorre quando uma veia é obstruída, abre ou reforça outros canais de irrigação, pois o organismo tem que ser sustentado. Da mesma forma, como os canais de informações foram obstruídos, outros se abriram – e com que eficiência! É o fenômeno da internet. A não ser que haja uma ação deliberada, com a participação de todos os governos, com o fim de controlar ou suprimir esse meio de informações.

A internet já é o canal de comunicação mais democrático, que intermedeia as informações que acontecem no mundo. É só digitar o assunto e todas as informações, até aquela que algum veículo pretende esconder, aparecem para conhecimento de todos. Se a imprensa está se dando conta dessa perda de credibilidade, ainda não se manifestou.

Até há pouco tempo, o jornalista que quisesse expressar suas opiniões tinha que submeter seus artigos aos donos da mídia, e torcer para que fosse aceito. Assim, suas idéias podiam ser acessadas pelo público. Se estava em outra linha, da qual não professava o jornal, só através de panfletos distribuídos nas esquinas.

Hoje, com a internet, é só criar um espaço e tranqüilamente cada internauta pode ler seus artigos em casa ou no trabalho. Grande invenção. Acredito que ninguém quer voltar à situação anterior. É como crescer, não tem mais como voltar. E a mídia tradicional? Está sendo mais uma opção, apenas. Isso é evolução.

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Licenciado em filosofia, técnico de laboratório na Universidade de Caxias do Sul