O crime organizado é tema da imprensa sempre que acontece algum fato de grande repercussão, como uma batalha entre traficantes, a prisão de um chefão de quadrilha ou a apreensão de grande quantidade de drogas. Mas os jornais e revistas brasileiros raramente se dedicam a abordar o processo de consolidação das organizações criminosas e sua crescente influência nas instituições públicas. Desse modo, todo o debate sobre a questão, que acaba influenciando também as discussões sobre descriminalização de algumas drogas e liberação do jogo, fica, digamos, viciado.
Na sua edição desta semana, a revista Época noticia a condenação de mais um chefão do narcotráfico internacional apanhado em território brasileiro. Trata-se do colombiano Jorge Enrique Rincón Ordoñez, que foi julgado no mês passado e sentenciado pelo juiz Fausto Martin de Sanctis a 11 anos de prisão.
Ordoñez se junta à galeria de criminosos que tentaram transferir o comando de seus negócios para o Brasil, país onde a economia mais dinâmica e poderosa permite dissimular as operações milionárias que envolvem o tráfico de drogas.
Desde 2006, ele é o terceiro chefe de cartel a ser preso e condenado do Brasil. Antes dele, foram extraditados para os Estados Unidos Pablo Rayo Montano, considerado um dos dez maiores traficantes do mundo, e José Carlos Ramírez Abadía.
Detalhe esquecido
Abadia foi um caso mais rumoroso, pois descobriu-se que vivia no Brasil sob a proteção de policiais paulistas, aos quais pagava propina para não ser preso. Mesmo depois de sua prisão, policiais corruptos ainda disputavam parte do seu patrimônio, espalhado por esconderijos na região metropolitana de São Paulo.
Esse é o trecho que falta na reportagem da revista Época.
O tema central da reportagem é o fato de que muitos criminosos escolhem o Brasil para movimentar seus negócios. Segundo a revista, isso acontece porque o Brasil é um dos países da América Latina com maior infraestrutura de aeroportos, rodovias e comunicações. Além disso, o sistema financeiro brasileiro, maior do que o dos países vizinhos, permite a movimentação de grandes somas sem despertar atenção das autoridades.
A revista Época apenas esqueceu de mencionar a corrupção policial. Falar do crime organizado e omitir esse detalhe é dar meia notícia.
***
Desafio olímpico
A questão da violência associada ao crime organizado tem frequentado também o noticiário sobre a Copa do Mundo de 2014, que será sediada no Brasil, e os Jogos Olímpicos de 2016, que deverão ser realizados no Rio de Janeiro.
A preocupação com a segurança dos milhares de turistas esperados para esses eventos está presente em quase todos os comentários.
A imprensa brasileira passou uma semana celebrando a conquista dos votos no Comitê Olímpico Internacional e deixa em segundo plano a cobrança das autoridades por um projeto efetivo que permita a realização dos dois eventos em condições que não envergonhem o país.
Em se tratando de decisões políticas, sempre se corre o risco de uma série de medidas paliativas, e se perde a oportunidade de mudanças que a sociedade exige há muito tempo.
Alberto Dines:
Dos sete anos que faltam para o início das Olimpíadas de 2016 só se passaram 12 dias. Vão por conta da natural ressaca depois da euforia. O problema não é este, o problema são as eleições presidenciais em 2010, Copa do Mundo em 2014 e em seguida os Jogos Olímpicos. O grande salto para a frente compõe-se de centenas, milhares de pequenos saltos, todos coordenados, disciplinados e necessariamente transparentes. A mídia não vai disputar qualquer prova nestas competições mundiais, mas o seu desempenho fiscalizador poderá levá-la ao pódio. Mais detalhes nesta terça-feira à noite, às 23 horas, no Observatório da Imprensa, pela TV Brasil em rede nacional, ao vivo. Em São Paulo, pela NET canal 4 e TVA, canal 181.