O poder é essencialmente amoral. E esta afirmação me faz pensar ainda mais sobre todos os desdobramentos políticos e jornalísticos aqui em Brasília e no Brasil…
Agora, as críticas se voltam para um jornalista da grande mídia corporativa. Acredito que todas elas são bem apropriadas para a ‘gafe’. Gafe? Não vejo uma atitude de puro preconceito e prepotência como apenas uma ‘gafe’. Gafe é quando você troca o nome de uma pessoa ou não sabe com que talher comer peixe ou lagosta em uma recepção, por exemplo, mas desmerecer pessoas, falar de forma arrogante e em tom de deboche é desrespeitoso, ultrajante e, por que não, decadente, sobretudo para um ‘grande jornalista’. Que só pediu desculpas porque o áudio ‘vazou’ no ar e o Brasil inteiro ouviu!
É tudo muito mascarado nas redações das grandes emissoras de TV. É inacreditável como todos eles são ‘politicamente corretos’ e passam a imagem dos ‘acima de qualquer suspeita’, dão verdadeiras lições de moral neste ou naquele político corrupto; mas basta as luzes das câmeras se apagarem que eles mostram a verdadeira personalidade soberba, contraditória e competitiva. E este fato serve para nos fazer pelo menos pensar sobre que mídia temos neste país, em especial a cobertura política.
Sempre acompanhei a opinião desses ditos ‘grandes jornalistas políticos’, mas quando os conhecemos, ou quando estudamos com eles e voltamos as nossas atenções a nos aprofundar no estudo da Ciência Política, acabamos por perceber e/ou constatar o quão infantil, talvez até inocente, é essa cobertura política brasileira. Lamentavelmente é fraca! Não chegamos nem aos pés dos jornalistas políticos dos Estados Unidos, por exemplo.
Com menos de 30 anos, ninguém segura microfone
É notória a falta de preparo da maioria dos jornalistas políticos de Brasília e do Brasil. Ficamos mais na área do ‘achismo habitual’ do que numa contribuição mais eficaz para a população. É um tal de: ‘Eu acho isso’ ‘Eu acho aquilo’, sobretudo os mais novinhos que entram nas redações por pura indicação política (o que é deplorável e que são substituídos quase semanalmente) não sabem sequer formular perguntas ou mesmo segurar o microfone. Mas há casos mais graves: que são aqueles jornalistas amigos dos políticos, aqueles com carreira já consolidada, os famosos ‘formadores de opinião’ que mantêm uma relação quase promíscua com os ‘nobres políticos’, uma relação de profunda amizade e respeito. Estes ‘grandes jornalistas’ apenas seguram o microfone para dar voz ao que os políticos/amigos ou seria amigos/políticos querem divulgar… É melancólico ver entrevistados e entrevistadores políticos hoje em dia no Brasil… Há todo um jogo político e teatral dentro das redações… Sei não… Para onde caminha o jornalismo político neste país? Os nossos formadores de opinião estão formando que opinião?
O brasileiro não tem opinião formada sobre nenhum assunto que diga respeito à política que é feita em Brasília (principalmente) e é alheio a todas grandes decisões que são tomadas no centro do poder político, decisões que afetam as suas vidas diretamente; muito dessa responsabilidade se deve ao desserviço das nossas grandes corporações jornalísticas e midiáticas. Os telejornais estão bobos! Quem é que agüenta assistir ao Jornal da Globo? Puxa, até rimou! O último que assisti foi patético! Uma reportagem sobre um casal que se conheceu na São Silvestre do ano passado… Mas qual é a relevância disso? Quem é que quer saber sobre este casal? Que conteúdo jornalístico tem isso? Quem são os editores deste telejornal? Fico vendo as jovens jornalistas decorando os textos sem ter a menor idéia do que esta ou aquela notícia significa.
Este ano, me dei ao trabalho de ir conhecer um pouco mais de perto a forma como se faz TV nos Estados Unidos (Nova York) e fiquei maravilhada com tamanha responsabilidade das emissoras consideradas sérias por lá. Jornalista com menos de 30 anos não segura microfone, não é comentarista político. Aliás, não é comentarista de nada! Não faz entrevistas consideradas importantes, nem sequer está na frente das câmeras em rede nacional como é de praxe por aqui.
TV aberta beira o ridículo e o constrangedor
Por lá eles passam anos a fio fazendo produção, estudando e se preparando para só então assumirem uma reportagem. Âncora só depois de muito tempo de experiência e com carreira já consolidada, coisa para lá de 10 anos de profissão. Lá existe uma conduta ética desconhecida por aqui. As emissoras oferecem oportunidades iguais para todos os candidatos a jornalista (também é assim em outras profissões). Os candidatos a um determinado cargo são avaliados por seus currículos, e não por seus ‘padrinhos’. Por que temos a sensação de que muitos dos profissionais deste país são despreparados? Essa sensação vai do médico do posto de saúde, ao próprio presidente da República. No jornalismo acontece a mesma coisa, sobretudo na corte tupiniquim… Por aqui, trabalhar em grandes emissoras de TV só com o famoso Q. I. (Quem Indica).
Quanta irresponsabilidade vai ao ar, a quanta opinião boba e desnecessária assistimos em nossas casas todos os dias? E isso sem falar naqueles famosos curiosos que nem jornalistas são, mas que estão ali para dar pitaco sobre isto e aquilo, ensinando a população como ela deve se vestir, se portar, como deve ir a uma entrevista de emprego, onde investir o seu parco dinheirinho etc. É tudo muito triste, demagógico e até cruel.
O povo brasileiro está sujeito a tudo mesmo. Somos um povo desrespeitado até por aqueles que dizem nos representar, ser a voz do povo! Imprensa, o 4° poder! Poder de que? Poder de tornar um povo cada vez mais oprimido? Com menos auto-estima do que já tem? Com menos informação de qualidade? As opções da TV aberta são as piores possíveis, beirando o ridículo e o constrangedor. Acorda Brasil!
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Luciana Lopez, Jornalista