Tenho recebido muitas mensagens de leitores me cobrando uma posição sobre a cobertura feita pela mídia nas últimas eleições municipais. Evitei até agora entrar nesta polêmica porque não é este o objetivo do Balaio, que se propõe mais a contar histórias da vida real, sem entrar nos bate-bocas que alimentam outros espaços do gênero.
Só resolvi agora escrever sobre este assunto depois de ler a mensagem que me foi enviada ontem [3/11] à noite, às 22h13, pelo leitor Pedro Augusto. Ela resume a preocupação de outros comentários enviados ao Balaio nas últimas semanas e por isso a trouxe aqui para o post:
‘Kotscho, boa noite. Por favor, caro amigo, exponha no seu blog algo sobre a influência da mídia nas eleições, uma vez que tenho ouvido falar que alguns orgãos de imprensa falada e escrita já estão fazendo campanha para as eleições de 2010. Segundo informações, está havendo falta de ética, pois esses orgãos de imprensa (principalmente a de São Paulo) divulgam algo irrelevante para sobrepor o candidato protegido. A população tem que ser esclarecida do que começa a ocorrer. Tem gente manipulando a população’.
Pelo jeito, Pedro Augusto deve ser um leitor bastante jovem pois ainda fica indignado com práticas já bastante antigas nas relações da mídia com a política e a sociedade.
A grande novidade dos últimos tempos, caro Pedro Augusto, é que agora não tem mais leitor bobo nesta história. As pessoas estão descobrindo cada vez mais o que há por trás da política editorial de cada veículo da mídia que é camuflada sob a forma de notícias isentas.
O público consumidor de informações está deixando de ser o agente passivo da história, que antes estava habituado a receber o prato feito, e começa a exigir seus direitos e a denunciar, como diz o leitor Pedro Augusto, que ‘tem gente manipulando a população’.
Só esta percepção já é um enorme avanço em direção à democratização das informações que está sendo estimulada pela crescente participação do leitorado na internet.
Perguntas espertas
Apenas para dar um exemplo ao Pedro Augusto do longo caminho que ainda temos pela frente para que a nossa imprensa comece a respeitar mais a sua clientela vou citar um exemplo do mais puro antijornalismo.
Mesmo quando imaginava que já tinha visto de tudo nesta publicação, confesso que fiquei chocado ao ler as páginas amarelas da Veja [edição 2086, de 5/11/ 2008]. Em entrevista com Demétrio Magnoli, apresentado como ‘sociólogo e doutor em geografia humana’, além de colunista de jornais, o editor Diogo Shelp nem procura disfarçar: está ali apenas para levantar a bola e instigar o dócil interlocutor a reforçar as teses da revista.
A começar pelo título – ‘Uma vitória da razão’, atribuída, é claro, à oposição ao governo Lula – trata-se de três páginas editorializadas com o mais puro pensamento vejiano apresentado em forma de entrevista.
Foi Magnoli, um neocon até outro dia desconhecido, transformado repentinamente em sábio de plantão, mas poderia ter sido qualquer outro afinado com as teses da Veja, que o resultado seria o mesmo. O que importa não são as respostas dele, mas as perguntas, que já embutem o que a revista quer ouvir.
Alguns exemplos de perguntas:
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O senhor acredita que o preconceito contra a direita tende a diminuir?**
Pode-se dizer que a ideologia serviu de pretexto para a corrupção do PT?**
A vontade de ser partido único não é um anacronismo?**
Por que a universidade brasileira ainda é um centro irradiador do marxismo?**
O que explica a ascensão desta esquerda obsoleta em países da América Latina?Pelas perguntas, o leitor pode imaginar quais foram as respostas…
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Jornalista