Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

A presidente está morta

“Que vantagem tem uma pessoa mentirosa?” Esta pergunta provocativa do filósofo grego Aristóteles, professor de ética e de política de Alexandre, o Grande, célebre conquistador do mundo antigo, cabe muito bem no cenário sombrio e atordoante da escalada de notícias ruins deste segundo mandato do governo Dilma Rousseff, que bate recordes de rejeição e agora só tem a aprovação de 10% dos brasileiros, segundo a mais recente pesquisa Datafolha. É uma bomba atrás da outra.

Primeira explosão: somente agora, nos primeiros seis meses deste 2015, o Brasil ficou sabendo, pela Operação Lava a Jato da Polícia Federal, do tamanho absurdo do esquema de propinas que corroeu os cofres da Petrobras, a maior empresa brasileira e uma das maiores petroleiras do mundo. Depois de instaurados 600 procedimentos de apuração, tendo como alvo 494 pessoas – entre elas, ex-executivos da estatal e de empresas privadas, além de políticos, apareceu o volume da corrupção: cerca de R$ 21 bilhões.

Esse é o montante desviado da Petrobras durante os anos de governo petista, segundo estimativa do banco americano Morgan Stanley. Como a operação está em andamento, todo santo dia é dia de notícia ruim para o governo Dilma. Sim, porque o tamanho do roubo do Petrolão, no governo Dilma já é considerado 33 vezes maior do que o roubo do Mensalão, no governo Lula.

Segunda explosão: manobras fiscais de Dilma entre 2012 e 2014 aumentaram a dívida do governo com os bancos em R$ 40 bilhões, conforme o Tribunal de Contas da União. Como assim? Sem dinheiro do Tesouro Nacional, ela mandou que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal pagassem os benefícios sociais e previdenciários, como Bolsa Família, seguro-desemprego e abono salarial.

A doação da Camargo Correa

Como se nada de errado estivesse acontecendo, os beneficiários receberam tudo em dia porque os bancos assumiram essas despesas com recursos próprios, o que é proibido por lei. Em 2014, as contas públicas tiveram resultado ruim devido ao aumento de gastos do governo em ano eleitoral. Agora, a presidente Dilma tem 30 dias para explicar ao TCU suas contas irregulares ameaçadas de rejeição.

Terceira explosão: descoberto pelo Ministério Público esquema de propinas milionárias em contratos da empresa Sete Brasil com a Petrobrás para construção de 29 sondas de exploração de petróleo em águas profundas do mar – pré-sal. Contratos giram em torno de US$ 2,4 bilhões, depois de a mesma empresa ter fechado com a estatal, em 2011, contrato no valor de US$ 25 bilhões também para construção de sondas petrolíferas.

Esses contratos de 29 sondas da Sete Brasil são um ponto de partida da força-tarefa da Operação Lava Jato na ofensiva para comprovar que o esquema de corrupção nas obras de refinarias da Petrobrás, entre 2004 e 2014, está sendo reproduzido em contratos do bilionário mercado do pré-sal.

Para agravar esse cenário explosivo, o Ministério Público descobriu que a empreiteira Camargo Correa doou R$ 4,5 milhões ao ex-presidente Lula, R$ 3 milhões para o Instituto Lula, e R$ 1,5 milhão por palestras dele ao preço de R$ 300 mil cada. Pelas investigações, tudo indica que esse dinheiro é fruto de propinas da Petrobras.

“Ninguém acredita mais nela”

É por tudo isso que a presidente Dilma está despencando em popularidade. Sua queda começou logo após a reeleição com as primeiras medidas do novo governo denominadas de ajuste fiscal, segundo a propaganda do Palácio do Planalto “ajustar para avançar”. Mas logo os brasileiros perceberam duas coisas: que a Presidente mentiu na campanha eleitoral dizendo que estava tudo sob controle, quando havia um grande rombo nas contas do governo; e que a população estava sendo escalada para cobrir esse rombo de responsabilidade única da má gestão do governo. Então, o que era apenas desconforto ou desconfiança virou indignação e ódio. Não é que a imprensa esteja ávida para derrubar Dilma, PT e Lula. O problema é que eles teimam em produzir escandalosas malfeitorias que geram noticias ruins.

Felizmente, parece que o ex-presidente Lula, que costuma atacar a imprensa de “golpista”, está reconhecendo isso. Deu no jornal O Globo que durante encontro reservado com 30 dirigentes religiosos em São Paulo, Lula deixou a arrogância de lado e fez autocrítica lembrando duas frases marcantes de Dilma na campanha reeleitoral e que viraram mentiras: “Eu não mexo nos direitos dos trabalhadores nem que a vaca tussa. E mexeu. Eu não vou fazer ajuste, ajuste é coisa de tucano. E fez”. Ou seja, a presidente Dilma mentiu enganando os brasileiros para conquistar a reeleição. O resultado da mentira está na queda vertiginosa de sua popularidade, confirmada na mais recente pesquisa Datafolha.

Constrangido, Lula mostrou aos religiosos a gravidade da situação do governo, do PT e dele próprio. Lamentou que em Santo André e São Bernardo do Campo, berço do partido, o governo Dilma só tem 7% de aprovação e 75% de rejeição. Diante disso, Lula fez uma analogia com o baixíssimo nível das águas do sistema Cantareira que abastece São Paulo: “O governo Dilma está no volume morto, o PT está abaixo do volume morto e eu estou no volume morto”.

Com tudo isso, além dos efeitos devastadores da crise econômica que deixa o país nervoso (inflação em alta, juros em alta, desemprego em alta, PIB em baixa, consumo em baixa, comércio em baixa) pesando demasiadamente contra, a presidente Dilma descarta o impeachment porque, avalia, não existe base real para ser aprovado.

Entretanto, existe base real para a renúncia da presidente: com somente 10% de aprovação e até abaixo disso, 7% no Sudeste, Dilma não tem mais legitimidade para continuar no governo. Nem legitimidade, nem credibilidade. Afinal, é como responde Aristóteles à sua própria pergunta inicial sobre a vantagem de uma pessoa mentirosa: “Ninguém acredita mais nela mesmo quando ela diz a verdade”. Politicamente, Dilma está morta.

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Jota Alcides é jornalista e escritor