Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A prova que faltava

Cidadão Boilesen é um documentário longa-metragem ainda não exibido ao público, mas já conquistou invejável quantidade de prêmios. Contém uma incansável pesquisa de documentos e uma série de curtos depoimentos sobre um episódio chave da luta armada movida por grupos de esquerda clandestinos contra a ditadura militar nos anos 1970: a morte do industrial, dinamarquês de nascimento, mas brasileiro por adoção, Henning Albert Boilesen, um eficiente arrecadador de fundos para os organismos da repressão política em São Paulo, entre os empresários paulistas.

Chaim Litewski passou quinze anos juntando documentos das mais variadas origens: dos próprios órgãos de segurança brasileiros, das embaixadas dos Estados Unidos, da Inglaterra e da Dinamarca, de órgãos como a CIA e o Departamento de Estado americanos. Foi à escola onde Boilesen estudou, na infância, viu suas notas, sempre medianas, recuperou avaliações dos professores, fuçou arquivos em Copenhague. Procurou cerca de duzentas pessoas para serem entrevistadas – sobreviventes da luta armada, delegados de polícia, funcionários do DOI-Codi, ex-OBAN, militares, políticos, empresários, muitos empresários. Um terço nem quis conversa, um terço deu entrevista, mas não gravou, um terço falou, gravou e apareceu.

A montagem é realmente sensacional, mas deixou de fora uma enorme quantidade de documentos – todas as entrevistas foram aproveitadas. O filho de Boilesen derrama-se em elogios ao pai, tem certeza absoluta de que ele não era nada disso que falam e faz uma inacreditável revelação sobre a Petrobras. Não vou contar, para não tirar a graça do filme.

Revelação confirmada

A Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, que está dando uma força a Chaim, preparou uma revista que conta desde o começo a sua luta para produzir o filme e mostra os lances principais do enredo da ditadura militar, de 1964 a 1985, que será distribuída aos espectadores, para que os mais jovens possam formar uma idéia do que foram aqueles tempos sombrios.

Na segunda-feira (23/11), foi feita uma apresentação especial, seguida de debate sobre o episódio. Na ocasião, Chaim me informou que está preparando o lançamento do filme em DVD e nele pretende colocar a maior parte possível dos documentos que não entraram. Garantiu-me que entre eles há papéis do Dops paulista que confirmam a utilização de veículos de empresas particulares para disfarçar a movimentação dos agentes nas ações repressivas. Uma delas era a Ultragás, de que Boilesen era presidente; outra é a Folha de S.Paulo, que sempre negou ter isso acontecido.

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Jornalista, São Paulo, SP