Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A saga da Viradouro no reino de Moisés

Gosto das notícias mais antigas. Sempre me deixam a sensação de que não foram devidamente exploradas. Ou que foram propositalmente negligenciadas.

A imprensa divulgou que foi a Federação Israelita a entidade que se sentiu no direito de ter sido consultada sobre a oportunidade de a Escola de Samba Unidos do Viradouro apresentar uma alegoria alusiva ao chamado holocausto. E, tendo recorrido à Justiça, obteve desta o veto que mutilou o conjunto criado por um artista.

Foi uma lamentável atitude, cuja arrogância só foi aceita e facilmente compreendida por dois motivos principais: o brasileiro é um povo que, historicamente, se submete e a influência judaica é incontestavelmente forte.

Com freqüência pesquiso, e cada vez mais me surpreendo, com o horror do Holocausto. Em bancos de dados de imagem é possível acessar fotos desse monstruoso evento e é impossível não se surpreender.

Todas as pessoas, no mundo inteiro, que viessem a assistir ao desfile principal das escolas de samba do Rio de Janeiro, ao ver passar a Viradouro se surpreenderiam com aquela alegoria. Garanto que não se arrepiariam apenas, como sugeria o enredo, mas sentiriam seus corações apertados. Talvez, quem estivesse cantando, até parasse um pouco. Arrisco a possibilidade de comentários posteriores em família. Comentários que certamente seriam de simpatia para com o povo que teve por destino viver aquele sacrifício, agora lembrado.

Sectários intransigentes

Ao cercear o direito do artista mostrar sua obra, a Federação Israelita prestou um desserviço à causa da divulgação do morticínio de judeus praticado na Alemanha de Adolf Hitler. Trata-se de assunto que não deve ser escondido nem esquecido.

Tratou-se, portanto, de uma querela equivocada que, de um lado, entristeceu um artista e humilhou uma comunidade, além de me ter negado o direito de assistir ao desfile completo, conforme idealizado por seus legítimos autores; e de outro, gerou resultados positivos apenas na aparência para uma entidade que em seu próprio nome ostenta sua origem estrangeira, visto que Israel não é Brasil.

É claro que cada assunto pode ser visto por ângulos diversos. No caso em questão, há razões políticas e históricas antigas e razões práticas atuais. Um caso desses não se esgota apenas com o protesto de uma entidade e uma sentença judicial.

Consola saber que tais iniciativas são obra de sectários intransigentes que, infelizmente, existem em qualquer povo. O que se lamenta é que atitudes assim podem fazer com que se passe a crer que ‘os judeus são maus’, ‘os judeus são fortes’, ‘os judeus podem proibir’, ‘os judeus são poderosos’ e outras mitificações que, ao longo da história, surgiram e não fizeram bem algum.

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Estudante, Nova Iguaçu, RJ