Uma das melhores agências de jornalismo investigativo do Brasil, a Pública.org, divulgou “WikiLeaks: Greenhalgh e os diplomatas” (5/8). O texto seria apenas mais uma matéria sobre as revelações promovidas por Julian Assange se não subscrevesse, na prática, a ideologia do jornalismo científico defendida pelo editor australiano. No jornalismo científico, ao contrário do que ocorre nos espetáculos circenses de mágica, as referências documentais são disponibilizadas juntamente com o texto que as interpreta. Respeita-se, assim, a inteligência do leitor.
A referência disponibilizada mais importante foi a resposta do sr. Luiz Eduardo Greenhalgh. Chamado de “informante” por Christopher McMullen, atualmente embaixador dos Estados Unidos em Angola, o ex-vice-prefeito de São Paulo argumenta que:
(A-1) Não é informante com “o sentido de ser colaborador, assessor ou braço norte-americano no Brasil”;
(A-2) Nunca se reuniu com “oficiais políticos do consulado-geral dos Estados Unidos”;
(A-3) O conteúdo dos textos diplomático que o citam é “inverídico”.
Assim como a matéria da Natalia Viana e do Daniel Santini não seria mais importante se deixasse de incluir a resposta de Greenhalgh, a incluída resposta do ex-vice-prefeito não seria mais notável sem as reflexões semânticas que enseja:
(B-1) Ser informante tem o sentido de “ser informante”.
(B-2) Oficiais políticos não são necessariamente chamados de “oficiais políticos”
(B-3) Como o terceiro não está excluído, é necessário considerar estes muitos valores lógicos: o verdadeiro, o inverídico e o falso.
Felizmente, até agora, nem Jobim nem Greenhalgh cederam à pressão de se confessarem agentes duplos.
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[Rodrigo Panchiniak Fernandes é professor universitário, Florianópolis, SC]