Dentro do mundo globalizado e da instantaneidade tecnológica, a morte de Amy Winehouse, ocorrida no último final de semana, bombou no Twitter, no Facebook e nos milhares de sites e blogs por aí afora. Digamos que sua morte teve, praticamente, uma cobertura ao vivo e assim será o futuro com os aparelhos de celular que servem para tudo, inclusive ligações.
As opiniões, informações e divagações foram se sucedendo e sua morte trouxe à tona aquele velho preconceito de uma sociedade hipócrita amparada pela mídia, que sempre adorou seus “escândalos” e que se esbaldou de vez na cobertura. Num primeiro momento, boa parte dos textos que li e das manifestações que observei nas redes sociais tinha aquela conotação do tipo “Tá vendo? Ela procurou seu fim”. Mais ou menos como “não foi por falta de aviso”. Em seguida ela entrou na “seleta” lista dos que morreram jovens, em especial dos que morreram aos 27 anos. Algum tempo depois, as pessoas começaram a opinar sobre como seria seu futuro brilhante e promissor.
Com o devido respeito a todas as opiniões, matérias etc, li um monte de bobagem e pude constatar como a sociedade ainda está enclausurada pelos seus dogmas. Na verdade, é esta sociedade embolorada, mofada, cheirando a mictório público que precisa de uma “clínica de reabilitação” (rehab, em inglês, título de uma das canções de Amy Winehouse).
Breve carreira
O viciado, qualquer que seja o vício, precisa de tratamento, não de censores. Ele, quase exclusivamente, só causa mal a si mesmo e aos que o amam. Em contrapartida, há milhares e milhares de pessoas na sociedade que ferram, um e outro, e outro, e mais outro todos dias, mas são pessoas “limpas”. Amy deixou claro na poesia de fino trato de seu maior sucesso (“Rehab”) que o que ela precisava era de um amigo e talvez isso é o que tenha lhe faltado. Daí o seu falecimento ser tão previsível. Finalmente ela se libertou.
Por sinal, a lista dos mortos célebres aos 27 anos – Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison, Robert Johnson, Kurt Cobain –, e incluo Ian Curtis nesta lista, morreram, em última análise, por falta de amor verdadeiro e compreensão, e buscaram o refúgio cada qual da sua forma. Aos que acham que ela teria ainda uma grande carreira pela frente informo-lhes que o que ela fez em dois álbuns [“Frank”, em 2003, e “Back to Black”, em 2006] tem gente que passará a vida toda sem fazer nem 1%.
Amy, enfim, nos deixou aos 27 anos, não porque usasse isso ou aquilo, ou porque bebesse isso e aquilo. Ela morreu, simplesmente, porque era Amy Winehouse. Sua morte foi, paradoxalmente, uma apoteose de sua breve, mas inesquecível carreira.
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[Sylvio Micelli é jornalista, São Paulo, SP]