‘O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter’ (Cláudio Abramo)
‘Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados’ (Millôr Fernandes)
‘Posso não concordar com suas palavras, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-las’ (Voltaire, filósofo e escritor francês (1694-1778) ao defender a liberdade de expressão)
Dia 24 de janeiro, dia do jornalista. Há frases e pensamentos, teorias e teorias que definem o que é o jornalismo e, consequentemente, o que é ser jornalista! Entretanto, o que parece mais interessante para comentar neste momento talvez não seja o que a profissão é em si, mas como ela está sendo exercida e, muito mais, em quais princípios de liberdade ela está baseada. Voltaire, já no século dezoito, descrevia esse direito – o da liberdade – como inviolável.
E hoje, como é ser um profissional da comunicação, um jornalista, três séculos depois dessas palavras do filósofo iluminista francês? Além disso, como é ser jornalista numa sociedade que, apesar de democrática, é regida por corrupção, por interesses políticos, econômicos e sociais? É uma tarefa para quem quer… Não para quem pode!
Em 1828, Lord Macaulay cria a expressão: ‘A imprensa, o quarto poder.’
Logo, independente das premissas que Macaulay baseava ao criar o termo, os jornalistas são os responsáveis por compor grande parte dessa imprensa, ou seja, desse quarto poder. Eles são os comunicadores que estudam e se elegem a profissão, ora para tentar cumprir as três funções da comunicação descritas por Laswell – vigilância do meio; estabelecer relações entre os componentes sociais a fim de produzir respostas ao meio; e transmitir a herança social –, ora para serem fiéis escudeiros de editores corruptos movidos por seus próprios interesses.
O polêmico caso Watergate
Uns dizem que são eles (jornalistas) mais poderosos do que a polícia, outros dizem que são um bando de sensacionalista e perturbadores. Entretanto, a verdade é que a importância, a responsabilidade e o poder desses profissionais na sociedade democrática é indiscutível. Fatos que comprovem tal afirmação nunca faltarão! Jornalistas vivem situações inimagináveis, colocam suas vidas em riscos, são tratados como importunos em diversas ocasiões para tornar públicos fatos e fatos, formar a opinião pública e contribuir para o fortalecimento da democracia.
O tempo conta, registra e memoriza esses fatos, essas histórias.
Sendo assim, sabemos que foi graças a jornalistas excepcionais que um povo inteiro teve a ousadia de ser informado de fatos e acontecimentos importantes em seu país, reportados por meio de um trabalho histórico, como a guerra do Arraial de Canudos, na Bahia do século dezoito. No contexto, o jornalista Euclides da Cunha, enviado do jornal O Estado de S. Paulo, narrou a Guerra de Canudos de uma forma isenta e objetiva, com juízo imparcial, apresentando todos seus aspectos geográficos, botânicos e zoológicos. Um trabalho que, mais tarde, transformou-se em História documentada em Os Sertões (1902).
Como também é por meio de excelentes jornalistas, como os norte-americanos Bob Woodward e Carl Bernstein – repórteres do Washington Post –, que grandes podres políticos são levados à tona, como aqueles descobertos pelo polêmico caso Watergate e desfechados na renúncia, em 1972, de Richard Nixon, presidente de uma das nações mais poderosas do mundo, os EUA.
Um trabalho imprescindível
Além disso, quantos jornalistas não arriscam a própria sorte para desenvolver seus trabalhos e viram notícias, ao invés de noticiar. Segundo o relatório da organização não governamental Campanha Emblema de Imprensa (cuja sigla em inglês é PEC), no ano passado 105 jornalistas foram assassinados em 33 países. Lastimável, no entanto, não só na América Latina e mundo a fora que jornalistas são vítimas. No Brasil isso também ocorre, como por exemplo, as recentes agressões que aconteceram em alguns estados brasileiros – Campina Grande (PB), onde um repórter cinematográfico foi agredido ao captar imagens sobre a sublocação irregular de boxes num shopping popular; outro caso em Inadaial (SC), onde uma equipe da RBS TV foi ameaçada e agredida ao apurar denúncias contra comerciantes da região, e em Fortaleza um sindicalista foi agredido por empregados de marketing do jornal O Povo.
Além desses fatos, quem não lembra do caso Tim Lopes? Ao denunciar ao povo o que já era denunciado à polícia, às autoridades competentes, o jornalista desapareceu em 2002 quando estava num baile funk, no complexo do Alemão, com uma câmera escondida tentando flagrar a exploração sexual de adolescentes e o tráfico de drogas.
Dessa forma é possível ter a certeza plena de que a liberdade de expressão recitada por Voltaire existe? Embora, seja mais fácil dizer ‘não’ do que ‘sim’ a essa indagação, temos inúmeros fatos interessantes que mudaram os rumos da História para saber e para contar … Talvez não conheçamos todos e nunca vamos conhecê-los, mas o trabalho de um jornalista na sociedade, construindo histórias, é, sem nenhuma dúvida, imprescindível.
Parabéns aos jornalistas.
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Estudante de Jornalismo (PUC-Campinas), Campinas, SP