Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A sunga do senador

A riqueza da nossa língua permite que, ao se expressarem, as pessoas escolham, dentre as de mesmo significado, as palavras que melhor traduzem seus desejos e pensamentos. Quando a maioria das escolhas recai sobre uma delas para um determinado significado, a outra, mesmo sendo sinônimo, deixa de traduzir aquele conceito e passa a ser usada para determinar outra ideia. Por exemplo: dizer que um homem é sério é o mesmo que dizer que ele é sisudo? No dicionário, é. Mas, geralmente, quando nos referimos a alguém honesto, de bom caráter e ético, dizemos que é uma pessoa séria. E quando queremos definir alguém que sempre se apresenta com cenho franzido e a fisionomia carregada, chamamos essa pessoa de sisuda.

Na prática, podemos afirmar que, hoje, o Senado Federal é constituído, na sua grande maioria, de parlamentares sisudos, mas não de políticos sérios. Ao contrário do Senado, ouso dizer que o senador Eduardo Suplicy é um político sério, mas não sisudo. Na semana passada, a pedido da repórter de um programa de TV, o senador vestiu uma sunga vermelha sobre o terno, numa alusão ao Super Homem, num dos corredores do Senado. Sempre muito elegante, antes de aceitar o pedido, Suplicy perguntou às pessoas que assistiam à entrevista se ficariam constrangidas caso ele aceitasse vestir a fantasia. Ao receber a resposta negativa, o senador, muito bem humorado, entrou na brincadeira.

No dia seguinte, o jornal O Globo estampou a foto de Suplicy fantasiado na primeira página. Os moralistas de plantão bombardearam o senador com críticas e ameaças. Para a minha surpresa, muitos leitores enviaram cartas também reprovando a atitude do senador, engrossando o coro dos parlamentares sisudos, mas não tão sérios, que levantaram a possibilidade de abrir uma representação contra o senador junto ao Conselho de Ética do Senado (se é que lá existe isso). Hoje, por exemplo, a notícia sobre o Senado é de que a casa já recua nas medidas moralizadoras.

Sinceramente, acho que acordei no país e na cidade errados. Quer dizer que o senador Eduardo Suplicy pode ser julgado por falta de decoro parlamentar só porque aceitou uma brincadeira de um programa de TV e se fantasiou de super herói, ato que, a meu ver, em momento algum denigre a imagem do Senado e nem de qualquer um de seus pares? Pois eu prefiro que todos os senadores, deputados, vereadores, governadores, prefeitos, e até o presidente Lula, circulem pelos corredores de Brasília vestidos de Batman, Homem Aranha, Capitão América, Mulher Maravilha e, para os mais novos, Power Rangers e Ben Dez, mas que tenham o caráter e o bom humor do senador Eduardo Suplicy, do que vê-los muito sisudos e pouco sérios, brincando com os recursos públicos e com as necessidades do povo que os elegeu.

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Fiquei chocada com o que vi no dia 15/10 no jornal do canal 40 da NET (Globo News). Entrevistavam alguém supostamente conhecedor de relações internacionais, não sei quem, sobre a crise em Honduras. Para ‘atualizar’ os telespectadores sobre a origem e o desenrolar da crise, passaram um vídeo curtinho explicando as razões da retirada do presidente do poder. O vídeo era completamente parcial, dizia muitas coisas de um lado e nada do outro; mas isso é normal, estou acostumada, o jornalismo é assim. O chocante é que disseram com todas as letras que o presidente Zelaya foi retirado do cargo porque tentou fazer um plebiscito para se reeleger, o que era vetado pela Constituição de Honduras. Isso não está nem perto da verdade! A consulta popular planejada por Zelaya não versava sobre sua reeleição. Na verdade, era uma ‘consulta sobre a consulta’. Ele queria que, nas eleições presidenciais de 29 de novembro, também houvesse uma votação para decidir sobre o chamamento ou não de uma nova constituinte. A pergunta que seria feita em julho era se o povo aprovava ou não que fosse incluída a votação de uma nova constituinte junto com as eleições presidenciais. É preciso que se faça alguma coisa, não pode ser que a Globo, com toda a responsabilidade que tem, justamente por ser a maior comunicadora do Brasil, possa divulgar impunemente informações falsas dessa monta. (Luiza Northfleet, estudante de direito, Porto Alegre, RS)

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Sempre que posso leio os artigos do Caio Blinder. Mas nem sempre concordo com os critérios que ele usa para distribuir adjetivos. Hoje, após fazer um longo elogio da China, Blinder finalizou seu texto referindo-se ao ‘…excecrável Partido Comunista’.

Impossível entender o por que do uso do adjetivo ‘execrável’. Afinal, o Partido Comunista tem mantido a China em paz por por décadas e foi o responsável pela rápida modernização da economia chinesa. Comparado aos belicosos Partidos Republicano e Democrata dos EUA, que recorrem constantemente à guerra para impor a vontade do Tio Sam fora das fronteiras norte-americanas, o Partido Comunista não pode ser considerado execrável. (Fábio de Oliveira Ribeiro, advogado, Osasco, SP)

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Infelizmente, os jornalistas que fizeram esta matéria aqui não atentaram para um detalhe importante. O cidadão não poderia ter sido chamado de ‘corno’ na sentença. Em razão da publicidade dada à ofensiva decisão judicial, ele ganhou a fama nacional de ‘corno’. E agora ele pode representar o juiz no CNJ e processá-lo civilmente. No Brasil, os juízes têm o dever funcional de respeitar as garantias constitucionais dos cidadãos que demandam em Juízo, bem como de tratar todos de maneira educada (art. 35, I e IV, da LC 35 de 1979). Mesmo considerando a pretensão do cidadão estapafurdia e descabida, o juiz deve ser educado e técnico. Não pode violar o direito à honra e a dignidade pessoal do jurisdicionado. (Fábio de Oliveira Ribeiro, advogado, Osasco, SP)

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Absurdos da política e do mundo digital. A sugestão de pauta (aqui) foi bem recebida pelo jornal O Estado de Minas e o assunto vem repercutindo. Recentemente, a internet foi liberada até para campanhas eleitorais, enquanto por aqui querem cercear o direito de um vereador manifestar sua livre opinião na rede. Atenção para a justificativa do Jurídico para este cerceamento… rende um ótimo debate. (Helem Sandra Albino, assessora de imprensa, Itajubá , MG)

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Gostaria muito de saber o que ocorreu na Redação da revista Veja para publicar na edição impressa de 14/10/09, na seção de datas, um necrológio tão equivocado quanto o que publicou sobre Mercedes Sosa. Se não for uma brincadeira de muito mau gosto que inadvertidamente foi para as rotatórias, então alguém deve ter perdido seriamente o juízo naquela revista. (Osmir Antonio Globekner, servidor público, Salvador, BA)

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Gostaria de informar ao site sobre as cenas terríveis que acabei de assistir na TV Record, canal aberto, concessão pública. Mais exatamente à 1h da manhã, a Record exibe um programa sobre suicídio onde, em 10 minutos, mostra sete vezes a mesma cena de um rapaz dando um tiro na própria cabeça. E eu que pensava que a imprensa não noticiava esse tipo de fato. Absurdo total! (Cristina Oliveira, jornalista, Boa Vista, RR)

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Jornalista, Rio de Janeiro, RJ