Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A tentação do Olimpo

Há poucos dias, um assessor parlamentar da Assembléia Legislativa da Bahia me perguntou se ética e jornalismo devem andar juntos como carne e osso ou se o jornalismo não tem, necessariamente, vínculo com a ética. Respondi que ética e jornalismo são inseparáveis e que o jornalismo sem ética não é jornalismo. Rimos muito quando recordei que o governo, sim, é um ‘ser essencialmente aético’, como certa vez definiu o então ministro da Fazenda, Delfim Netto.

Por que falar em ética antes de falar em corrupção? Só para demonstrar que corrupção e falta de ética são a mesma coisa. Que toda falta de ética é um tipo de corrupção. Que não existe corrupção apenas se o jornalista receber dinheiro para mudar a reportagem, porque também é corrupção mentir por razões pessoais ou ideológicas, sem nada receber em troca. O jornalista que mente porque quer derrubar um político de quem não gosta, o jornalista que mente por inveja, por desrespeito e por ódio, é tão corrupto quanto aquele que troca uma reportagem por uma vilegiatura na Zona Franca de Manaus.

Subserviente

Brasília, que hoje está em discussão, é um bom laboratório para se discutir a corrupção do jornalista. Nesses quase 20 anos de Brasília, adotei como forma de sobrevivência neste ‘Butantã’ a manutenção de uma distância sanitária do poder. Relacionamento profissional de respeito mútuo, sim; intimidade, jamais. Se o jornalista, por sua influência na opinião pública, muitas vezes é tentado a escalar o Olimpo, a tentação é maior em Brasília: conviver com as autoridades pode fazer o jornalista sentir-se uma delas. Quando se sentir parte do poder, o jornalista vira o trapezista de Simonsen: pensa que pode voar e se estatela no chão.

Isso acontece quando ele começa a misturar o público e o privado. Pede favores desses amigos e do governo. O resultado é que perde moral para criticar, quando tiver de fazê-lo. E os que têm interesses no poder sabem como envolver um jornalista: basta fazê-lo sentir-se importante, com jantares, amizades à primeira vista, participação em viagens ao exterior, intimidades. A vítima se sente digna de atenções, mas seus novos amigos sabem que ele não merece respeito, porque é um subserviente sem caráter.

******

Jornalista