Enquanto a mídia nos massacrava na greve dos professores e a maioria das pessoas da sociedade, do parlamento e da prefeitura nos chamava de vagabundos e dizia que não queríamos trabalhar, me surpreendi com a presença de uma jovem em plena assembleia de professores, que pediu a palavra e, de modo simples e verdadeiro, sem a malícia da política, proferiu palavras de emoção, verdade e de apoio a uma greve de professores.
Como a maioria dos que fazem a imprensa diz, os jovens são “mortos de fome” e querem aula de qualquer jeito sem dignidade na profissão e sem respeito aos professores. Taís pronunciou as palavras mais emocionantes que um professor precisa ouvir: “Eu adoro meu professor…” e estou com vocês nesta luta. Quem imaginaria que uma jovem de 14 ou 15 anos tivesse tanta capacidade de entender que nossa luta é também deles e que os estudantes entendem a importância dos professores? Quem pensa que jovem é alienado está redondamente enganado, pois eles sabem e só não têm oportunidade de dizer o que pensam no momento em que a escola só pensa em fórmulas, números ou teorias da gramática… Se as escolas procurassem dar espaço a esses jovens, no futuro teríamos lideranças honestas, éticas e pautadas no dever de realmente estar a serviço do povo.
As palavras da jovem Taís talvez sejam palavras de muitos jovens que não querem a escola que está aí, não querem esse modelo administrativo que está aí, não querem esses políticos que estão aí…. A visão de que os jovens não têm visão é reducionista, pois temos vários exemplos de jovens que são capazes de desenvolver trabalhos, ações, ideias e maneiras diferentes de ver o mundo. A jovem Taís levou-me às lágrimas não apenas por estar vislumbrando aí um futuro brilhante, na medida em que se esta jovem for lapidada pela escola e tiver educação verdadeira, irá além das mentiras que hoje são colocadas nos currículos, nos livros e nas formas de desenvolvimento da escola.
Educação rende frutos
Resta agradecer a uma jovem que mesmo vivendo em escola pública e ser supostamente pobre, demonstrou que não é pobre de espírito e sabe amar e reconhecer as pessoas sem interesses, sabe ver a luta dos educadores e sabe que a educação existe através de troca mútua de amor, sinceridade e verdade. Se nossos gestores procurassem desenvolver nas escolas o cultivo do amor, quantas jovens Taís teríamos em nosso país e nossas reivindicações não seriam tratadas com desrespeito por parte do poder público que sabe que a ignorância de muitos acaba se transformando em conformismo. A jovem Taís Ribeiro me deu ânimo para enfrentar esta luta que é ser educador em um país de gestores ignorantes, não do ponto de vista intelectual, mas do ponto de vista da luta de classes e da implantação da justiça social que, nas palavras de Paulo Freire, deveria vir antes da caridade. Na música dos Titãs se diz que o povo não quer só comida, quer bebida diversão e arte. A jovem Taís mostrou que as escolas não são locais onde o atrativo é a merenda escolar, mas sobretudo o amor que devemos repartir com nossos jovens que hoje está tão escasso nas famílias e que pode ser dividido e repartido entre os dois principais personagens do processo educativo e que tem sido tão negligenciado por nossos governantes: professores e alunos…
As greves que hoje vêm sendo tão mal julgadas pelos profissionais de imprensa, que às vezes têm íntima ligação com o poder ou com a folha de pagamento dos órgãos públicos, parece que foram mais bem entendida pela jovem Taís Ribeiro do que os grandes pensadores e educadores de nosso país. Ela entendeu a luta e sinto orgulho por ter trabalhado uma educação diferente com esta jovem que foi além do conteúdo e tinha antes de tudo amor pela prática pedagógica, que tem de ser diferente da educação que os poderosos hoje no poder querem para nossa crianças… Desse modo, a educação com amor, dedicação e, sobretudo, sinceridade rende frutos inimagináveis… Obrigado, Taís, você realmente entendeu a lição e seu futuro com certeza será brilhante… No entanto, enquanto Taís, uma jovem do nono ano do ensino fundamental que a maioria julga como sem conhecimento, dava seu apoio à greve, professores letrados, hoje diretores biônicos, faziam listas para entregar companheiros que estavam em greve por uma luta justa, líquida e legal (Lei do Piso) já referendada pelo Supremo Tribunal Federal… Será que eles dormem tranquilos? A jovem Taís, com certeza, dorme muito bem…
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[Francisco Djacyr Silva de Souza é professor, Fortaleza, CE]