Há uma longa polêmica nas redações de jornal do país sobre os motivos que fazem da violência do Rio um assunto tão atrativo para os jornais paulistas, que usualmente dedicam mais espaço ao tema do que para os próprios fatos ligados à criminalidade em São Paulo, que não é menor que a do Rio. Ontem foi um desses dias. Os dois maiores jornais paulistas, Folha e Estado de S.Paulo, deram manchete de grande impacto para a operação policial no Morro do Alemão.
Ao fazerem isso, relegaram a segundo plano um crime chocante numa área nobre da capital paulista, onde um menor de 7 anos presenciou os pais serem fuzilados por um assaltante num sinal no Morumbi, bairro de mansões e do Palácio Bandeirantes, sede do governo estadual. O assunto estava na primeira página do Globo, por exemplo, com mais destaque do que na da Folha, que o colocou como sua última chamada, a menos visível da página. Já o jornal Diário de S.Paulo, em direção oposta a de seus concorrentes locais, dedicou ao crime do Morumbi a manchete do jornal.
Na Redação do Globo, há uma das opiniões mais abalizadas do país sobre esta polêmica: a do editor de Opinião, Aluizio Maranhão, paraibano que fez carreira no Rio e foi diretor de Redação do Estado de S. Paulo por sete anos. Maranhão não compartilha das idéias conspiratórias que freqüentemente são expostas por autoridades do Rio, como o ex-governador Anthony Garotinho, para quem os jornais daqui superdimensionam a violência da cidade. ‘Trata-se de um traço da cultura do jornalismo paulistano e mesmo da forma como é a distribuição espacial e social da cidade de São Paulo. Cobre-se menos o cotidiano da rua em São Paulo do que no Rio’, explica Maranhão. Ele, que também esteve em cargo de chefia em São Paulo na revista Época, por três anos, ainda acrescenta: ‘No Rio a violência está mais visível às classes média e alta, formadoras de opinião; lá, com exceções, ela ocorre distante dos Jardins, na longínqua periferia.’
O chefe da sucursal do Globo em São Paulo, Germano Oliveira, tem opinião parecida: ‘Os índices de criminalidade são os mesmos, mas a violência paulistana não é tão escancarada como a carioca. A morte do casal no bairro do Morumbi parece que não atinge a todos. E isso se reflete na cobertura dos jornais paulistas’, diz Germano.
O editor de Rio do Globo, Paulo Motta , com a experiência de quem acompanha o tema há muitos anos, bota um pouco de pimenta na discussão: ‘Um levantamento feito pela Universidade Cândido Mendes revelou que jornais cariocas e mineiros dedicam cerca de 80% do seu noticiário policial a fatos locais, já os paulistas usam apenas cerca de 45% de seu espaço para o noticiário de violência local, sendo que até outros 30% são apenas para o que ocorre no Rio.’ A conclusão de Paulo Motta: ‘É por isso que a população paulistana acordou um dia e descobriu que existia por lá um tal de PCC…’