Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A informação que a grande imprensa não deu

‘E bota abunda e medra nisso!’ (Jaguar)

O lema deste Observatório da Imprensa é ‘Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito’, o que me faz lembrar o antigo Pasquim, que tinha como símbolo o Sig, ‘o rato que ruge’. Foi o velho Pasquim (1969-1991) que, em plena vigência do regime militar, ampliou a visão dos leitores tornando-os mais reflexivos e críticos diante de uma imprensa que expressava a defesa da ordem político-ideológica da época e os interesses econômicos, como nos dias de hoje. Quando eu queria me instruir sobre a ‘arte’ de ler jornal, abria o Pasquim diretamente na coluna de Alberto Dines, este mesmo, atual editor responsável do OI; ou na página do Fausto Wolff, que ano passado foi pro céu dos jornalistas escanteados pela grande imprensa.

Aqui, no OI, o espírito pasquineiro de noticiar e informar, com doses de humor na medida certa, pode ser sentido na coluna do Carlos Brickmann, que foi da patota.

Comentar as arapucas jornalísticas da imprensa brasileira cansa um pouco, em vista dos diversos artifícios por ela aplicados para desvirtuar fatos e confundir os leitores. Sofismas, falácias, enquetes tendenciosas, má-fé, indiferença a acontecimentos relevantes, acusações sem provas, elogios sem o devido mérito ao sujeito, enfim, sutilezas de toda ordem vão sendo empregadas com o propósito de fazer o Homer se indignar ou se ufanar; depende do alvo e dos interesses dos patrões, os barões do oligopólio, esse monstro de tentáculos multimidiáticos. São os meios justificando obscuras finalidades.

Distorcendo verdades e deformando opiniões

Os editoriais, que deveriam servir de bússola, norteando jornalistas e colaboradores em busca da verdade dos fatos, acabam funcionando como ‘ditatoriais’ regras da casa. Os patrões sabem que, para muitos brasileiros, o que se publica em jornais e revistas funciona como no jogo do bicho: ‘vale o escrito’. Daí se entende o desabafo do deputado que afirmou estar ‘se lixando para a opinião pública’. Apesar de que eu não conheço político que esteja realmente preocupado com a dita cuja; nada além das eventuais inquietações que os baixos índices de uma pesquisa eleitoral possam lhes provocar.

Mesmo assim, continuamos pagando para ler revistas e jornais impressos, além dos respectivos sítios internéticos exclusivos para assinantes. E ainda perdemos precioso tempo de olho na tela.

Recebi por e-mail com a seguinte mensagem:

‘Notícia do Blue Bus – 25/05/09

`Não se iludam, acabou´, disse há pouco por viva voz o empresário Luiz Fernando Levy. Falava por telefone com os funcionários da Gazeta Mercantil. Levy foi procurado pelo pessoal do jornal, preocupado em saber os desdobramentos da notícia de que Nelson Tanure pretende devolver a Gazeta Mercantil a Levy. Deixou claro que não quer o título de volta. E avisou que na 4ª ou na 5ª feira vai publicar comunicados nos jornais rebatendo os argumentos de Tanure para justificar sua decisão de desistir da Gazeta. Blue Bus ouviu as informações ainda agora de fonte do jornal. No momento, a diretoria está em reunião com alguns editores e há expectativa de que algum anúncio seja feito mais tarde.’

Provavelmente, o seleto clube dos leitores da Gazeta Mercantil prefere publicações que tratam a economia pelo ângulo essencialmente político, distorcendo verdades e deformando opiniões, às que lidam com a matéria de forma profissional e competente.

Internet e papo de botequim

A maioria dos jornalistas brasileiros, empregados e desempregados, tenho certeza, é formada por competentes profissionais, pessoas bem intencionadas, cheias de boas idéias. Mas os postos de decisão e mando das redações são ocupados por gente amestrada e aí acaba prevalecendo a lei do ‘manda quem pode e obedece quem tem noção das dificuldades do mercado de trabalho’. Se uma dessas mega inutilidades jornalísticas que ainda ocupa espaço nas bancas fechar as portas, seus donos continuaram tão milionários quanto o são hoje. O mesmo não se pode dizer daqueles que compõem o quadro funcional dessas empresas, que vão engrossar os índices de desemprego em tempos de crise.

Abundam e medram (êpa!) maus exemplos de manipulação da notícia. Banalizam-se os métodos de veicular a informação, que deveria ter caráter de imparcialidade… melhor, de justiça, por parte dos órgãos de imprensa. Que um jornal tome partido, que seja parcial, assumindo, com todas as letras, posição (vá lá!) político-ideológica, mas que não se esqueça o senso de justiça.

Hoje, se não fosse a internet e os papos de botequim, o que teríamos para nos fazer razoavelmente bem informados?

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Escritor, Rio de Janeiro, RJ