Em junho de 2008, em uma área comercial de Tóquio, o operário Tomohiro Kato, esfaqueou e matou sete pessoas e feriu mais dez. O crime foi anunciado, em detalhes, no blog do trabalhador. E, em seu diário eletrônico, ele tentou explicar a sua loucura: ‘Eu valho menos que lixo, porque ele pelo menos é reciclado’. Uma triste história, produzida no ambiente das megacidades, em que potencialmente todos são mais um dentro de estruturas organizacionais produtoras de insanidades.
O cinema – que se interessa por dramas como o relatado – tem, também, produzido críticas contundentes aos modelos organizacionais, sejam eles aplicados em empresas e instituições. Inicia a fila de cacetadas no que acontece nas linhas de produção Tempos Modernos (EUA, 1936), obra-prima, que tem o roteiro, a direção e a atuação principal de Charles Chaplin. Neste filme, o processo de trabalho, fragmentado em tarefas e que transforma o homem em máquina, é expresso nas seqüências em que o personagem de Chaplin é arrastado por gigantescas engrenagens e, em outra, ele faz a sua refeição em uma máquina de comer, protótipo visionário dos atuais restaurantes de comida fast-food. As modernas doenças, mentais e físicas, causadas pelo trabalho repetitivo, também estão no filme, na cena em que o operário, enlouquecido, não consegue mais distinguir porcas de botões, persegue uma mulher para apertar os botões de seu vestido, satiricamente costurados na altura dos bicos dos seios.
Além das paredes
O ambiente da maquinaria empresarial que tira as pessoas do sério é tema de FormiguinhaZ ( EUA, 1998), dirigido por Eric Darnell e Tim Johnson, e, destaque para a voz de Woody Allen, um desenho que critica organizações que não têm espaço para as pessoas que não querem guerrear para conquistar ou manter uma posição em sua hierarquia. A empresa, na metáfora passada no formigueiro, é lugar de competição, luta e conflito permanentes. O salário, o bônus e os reconhecimentos são troféus de uma guerra, que, de repente, sangra nas ruas e vira manchete, como no caso do trabalhador japonês.
O controle corporativo, que, mais cedo ou mais tarde, transforma pessoa em fera, é analisado em O Show de Truman (EUA, 1998). Neste filme, Truman Burbank, protagonizado por Jim Carrey, é um individuo que desde o seu nascimento, sem que ele saiba, vive com uma câmera de televisão, em tempo real, acompanhando a sua vida, e, pior do que isso, transmitindo para todo o país. Até o dia em que Burbank descobre que vive dentro de um cenário, onde a cidade e os papéis sociais vividos ali são parte de um cenário. Nada ali é verdadeiro.
O personagem do reality show escapa do programa e foge para além das paredes cenográficas. Em direção a outras organizações, onde homens e mulheres vivem outras situações semelhantes. Lembrando semelhanças, ainda em Tóquio, em janeiro, também de 2008, outro operário esfaqueou algumas pessoas num centro comercial.
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Jornalista, professor da ECA-USP e diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje)