Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A verdade, os jornais ou o entrevistado?

Ao ler a matéria sobre o homem baleado na Estação Trianon do metrô em três jornais – Folha de S.Paulo, Diário de S.Paulo e Agora – pergunto: os veículos estão se aproveitando da vítima?

Na chamada de capa do Diário de S.Paulo (sábado, 22/09), o titulo é: ‘Baleado no Metrô quer Indenização’. Segundo o lead, o comerciante diz que a segurança falhou e decidiu processar o metrô. No jornal Folha de S.Paulo da mesma data, a chamada era: ‘Baleado no metrô diz que vai parar de reagir’. ‘Eram profissionais’,diz baleado no Agora SP.

Percebe-se que cada um dos títulos diz uma coisa. Sim, os entendimentos dos fatos diferem de repórter para repórter. Logo, as versões são confusas.

De quem é a culpa? É do entrevistado ou do editor? Aprendi nas minhas aulas de redação que tenho que sempre ouvir os dois lados e procurar testemunhas e fontes que presenciaram o fato ocorrido.

‘Idéias-feitas’

Se a vítima fala em processar a companhia de transportes, por que o Diário de S.Paulo não o registrou? É um denuncismo ou um fato importante da abordagem? Mas será que a Cia. do Metropolitano tem culpa?

Segundo Perseu Abramo, em seu livro Padrões de manipulação da grande imprensa, a relação imprensa vs. realidade é como um espelho deformado e o objeto que ele aparentemente reflete: a imagem do espelho tem algo a ver com o objeto, mas só não é o objeto como também não é a sua imagem; é a imagem de outro objeto que não corresponde ao objeto real.

Portanto, é mais cômodo ao jornalista e ao veículo passar ao leitor a idéia de que o metrô é culpado por ele ter levado o tiro na perna, e com isso criar-se uma ‘realidade’ que as estações do metropolitano são inseguras?

Parece que trabalhar em cima de ‘idéias-feitas’ – que, segundo Pierre Bordieu, são aceitas por todo mundo – é mais fácil do que ensinar e orientar as pessoas sobre situações de risco.

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Estudante de Jornalismo, São Paulo, SP