Chegam ao fim, no dia 8 de outubro, as comemorações do 40º aniversário da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje). Haverá o lançamento de uma revista voltada para temas teóricos o primeiro número traz um oportuno artigo sobre o tema das relações entre as estratégias de comunicação e o valor das marcas, sob o título ‘Uma única face’ – o lançamento de uma TV digital e a 34ª edição do Prêmio Aberje de Comunicação Empresarial, como marcos últimos de um extenso calendário de eventos. Esta semana foram divulgadas as premiações regionais e as mídias do ano. O prêmio, registre-se, nasceu junto com a Aberje e este ano é disputado por 450 empresas, em 18 categorias, entre elas Comunicação de Ações de Marca e Comunicação de Ações de Sustentabilidade, recém-criadas.
A data é o espelho de uma longa e produtiva jornada feita de muitos marcos. Poderiam, em suas grandes linhas, serem sintetizados em dois capítulos. O primeiro é feito da argamassa do pioneirismo e se prolonga dos anos 60, quando a Aberje foi fundada sob a liderança do jornalista Nilo Luchetti, até a metade da década de 90, época em que consolidou a comunicação organizacional como profissão indissociável das estratégias corporativas e organizacionais. O segundo capítulo começa a ser escrito em 1995 e continua evoluindo nos dias atuais. Se no princípio o foco era a edição de jornais e revistas e, a seguir, acompanhar o passo da modernização das companhias numa economia que se abria para a concorrência internacional e o poder público que se renovava com o renascimento da democracia, o salto à frente se deu em muitas direções. Uma delas foi o mundo acadêmico.
No Brasil e, também, no exterior as alianças celebradas pela Aberje passaram a produzir conhecimento. Livros, papers, artigos, palestras, um curso internacional que caminha para a quarta edição, cursos de qualificação profissional, um centro de memória. A geografia do mundo Aberje hoje chega a todo o país e se estende, por exemplo, até os Estados Unidos graças à parceria com a Siracuse University. Tornou-se rotina comunicadores com títulos de mestre e doutor em comunicação ou outras áreas de especialidade, assim como com pós-graduação. O objetivo permanente da Aberje é, de um lado, buscar a democratização da comunicação, com posicionamento claro em favor dos valores republicanos, e, de outro, promover o saber, o conhecimento, a cultura. É cada vez mais claro que o comunicador é um estrategista do ativo principal das organizações: a reputação que é feita da soma da imagem e da identidade.
Caminho maior
É cada vez mais claro que a comunicação não pode ser reduzida a ferramentas e que sua essência é o conhecimento, a prática qualificada e transformadora que alia teoria e conteúdo, arte e técnica. Essa é a essência. Essa é a luz da chama do artífice da comunicação moderna. A metáfora contemporânea de Prometeu desacorrentado. O ponto de partida desse segundo capítulo da história aberjiana data de 1995. Naquele momento, assumiu a presidência Rui Altenfelder, que nos dias atuais dirige o Conselho de Estudos Estratégicos da Fiesp e, com ele, o jornalista Paulo Nassar, que respondia pela chamada Ala Jovem da instituição.
A dinâmica obedeceu a uma linha de continuidade e renovação, criada por Nassar. Por continuidade, entenda-se a preservação do passado, depositada no reconhecimento pela trajetória percorrida; renovação dada a busca de adaptação aos novos tempos. Se a memória é a presença do passado, a visão de futuro é a construção da estratégia evolutiva no cotidiano.
Nesse ambiente foram sendo incorporados à Aberje nomes como Rodolfo Witzig Gutilla (Natura), Gilberto Galan (Galan & Associados, Eraldo Carneiro da Silva (Petrobras), Jean François Hue (Accor), José Eduardo Gonçalves (Andrade Gutierrez), Luiz Fernando Brandão (Aracruz), Eloi Zanetti, Augusto Rodrigues (CPFL), Paulo Henrique Soares e Olinta Cardoso (Vale), Marco Antonio Lage (Fiat), Márcio Polidoro (Odebrecht), Malu Weber( Votorantim, aliás agora mais uma vez eleita Personalidade de Comunicação do Ano em São Paulo), Renato Gasparetto (Gerdau) e Elisa Prado (Tetrapack), enfim, um plêiade de comunicadores que pensam e fazem comunicação. O mérito da continuidade está na gênese da renovação.
Essa perspectiva ampliou e persiste ampliando os horizontes da organização, que reúne mais de mil empresas e tornou-se uma referência nacional e internacional. É isto que faz a Aberje interlocutora nos grandes temas ligados à comunicação e a esse caminho maior das organizações que é dialogar com a sociedade dialeticamente e construir o novo, o ético, o útil para a sociedade.
Olhar nos olhos
Aristóteles ensinava que o homem se torna um cidadão quando educado para servir à cidade. E ensinava mais: que a virtude – leia-se a ética – era um hábito nascido da prática. Quanto mais próximo da virtude, mais o homem estaria próximo do bem. Quando mais próximo da virtude, mais a cidade estaria próxima do bem. Pois a virtude é uma qualidade potencial a ser desenvolvida dinamicamente por meio da práxis e da educação (Ética a Nicomacos). O que a Aberje tem feito – e este o seu principal mérito, esse o fio da tessitura e o fio da trama da continuidade e renovação – é educar, é incentivar a prática da ética, é aproximar a comunicação da cultura corporativa com vista ao bem da sociedade, com vista à realização da corporação como cidadã.
Educar comunicadores, educar empresários, executivos e governantes. Educar a sociedade com a mensagem chave da utilidade da cultura da comunicação, com a mensagem de que comunicação é arte-técnica mestiça a entrelaçar todos os fios do conhecimento, do saber, da informação. É assim, educando, que tem dado sua contribuição para superar o grande conflito corporativo dos nossos dias: ao mesmo tempo que gera riqueza a empresa gera destruição (veja o caso da crise americana). No que depender da Aberje, a construção cada dia se tornará mais preponderante e esta missão está expressa na ênfase a esse ativo maior que é a educação. São traços distintivos que fazem a Aberje merecer, de todos nós, o reconhecimento pelo seu valoroso papel. E que inspira confiança de que o futuro será modelado pela inteligência modelada pelo passado e a ousadia de olhar nos olhos os desafios do futuro.
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Jornalista, consultor de empresas e autor do livro Hermes, a divina arte da comunicação