Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Açodamentos vencendo contradições

Vai ser preciso o Brasil superar vários casos Palocci para adquirir tessitura e maturidade política capazes de afastar a tremulação causada por surtos antidemocráticos, ou ferrenhas ditaduras, como tantos registrados na nossa história, os mais prolongados dos quais – o de 1938 e o de 1964 – responsáveis por danos até hoje marcantes na cidadania do país. Apesar das experiências vividas nesses períodos, em alguns momentos a imprensa brasileira parece intrigada e inconsciente da importância de suas ferramentas capazes de fundamentar suas denúncias, a investigação jornalística, e estabelecer seus limites de ação, os seus compromissos, a verdade e as suas relações políticas.

O recente episódio Palocci, que segundo a matéria da Folha de S.Paulo enriqueceu 20 vezes no seu primeiro mandato de deputado federal, ilustra bem esse argumento.

Há dois aspectos entre os que devem ser examinados com cautela: a linguagem utilizada pelo jornal está eivada de um equilíbrio pouco comum à imprensa brasileira da década de 50 para trás, período marcado pelos açodamentos agudizados pelas tendências partidárias que empurravam nosso jornalismo; o controle partidário, pois embora as oposições ao governo formem um bloco avantajado, ele não consegue desenvolver estímulos monolíticos pendulares.

Brechas do sistema

Havia brechas na legislação e Palocci as usou para ganhar dinheiro rapidamente, saindo pela culatra o tiro dado pela Folha, segundo o qual ele teria operado na surdina, ou seja, sem o conhecimento prévio da chefe, a presidente da República. Esse fato foi o principal instrumento para desarmar a bomba que as oposições precisavam para manter aceso o perigoso estopim. E, rapidamente, agiram os estrategistas de defesa do governo Dilma Rousseff ao promover a blindagem em torno do chefe da Casa Civil. Por maioria folgada, o Congresso evitou na semana passada a ida de Palocci ao plenário, onde se exporia a todo tipo de pancada.

Para a opinião pública, o governo agiu tão rapidamente como numa operação cronometrada. Usou-se uma antiga sabedoria chinesa: jogou-se água no incêndio suficiente para debelar as chamas, mas com o cuidado de não afogar o paciente. Excessos na defesa poderiam fortalecer os ânimos oposicionistas.

Desse episódio, já é possível se tirar várias lições. A primeira é a de que está outra vez iniciada uma temporada de caça às irregularidades cometidas por estrelas de primeira grandeza do governo sem o temor de se estar abrindo uma brecha rumo a um golpe militar, o que era impensável até o impeachment de Collor. Segundo, se o Brasil é a terra das oportunidades, que mal há em se ganhar dinheiro aproveitando as brechas do sistema? Se há tantas brechas só aproveitadas pelos competentes, como Palocci, por que o Congresso Nacional não as bloqueia, criando suas leis?

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Jornalista e escritor, Maceió, AL – editor do site da AALONG