Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Adeus ao Espaço Público

O programa Espaço Público (TV Brasil) saiu do ar na quinta-feira (31/7). Este que era para mim um dos poucos espaços de discussão verdadeiramente democrática da TV brasileira foi tirado do ar sem maiores explicações. Estava clara nos rostos e palavras finais dos debatedores – e no choro da apresentadora Lucia Leme – a decepção com este ‘fim de ciclo’.


Pergunto aos atentos participantes do Observatório da Imprensa: não valeria uma notinha ao menos no Observatório na TV? Ou pelo menos uma linha neste blog? Sonhando mais alto um pouco gostaria de ouvir (ou ler) as justificativas deste ato da boca do jornalista Franklin Martins ou da jornalista Tereza Cruvinel. Não sou ligado a teorias conspiratórias nem fico procurando cabelo em casca de ovo, mas a retirada do ar deste programa tem um cheirinho de censura.


Nota do OI: Ver, nesta edição, ‘Razões obscuras para o fim do programa


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Lamentável a decisão da TV Brasil de extinguir o Espaço Público que, como o Observatório da Imprensa, era dos poucos oásis de qualidade na televisão brasileira. Como este Observatório deve ter conhecimento, segundo noticiado na Folha de S.Paulo (25/7), ‘em comunicado distribuído à imprensa, a emissora informou que a decisão tomada pela direção de Jornalismo foi por conta da estratégia da TV Brasil se tornar mais nacional’. Convenhamos que esse critério é no mínimo estranho… (Maria Isabel Falcão, bibliotecária, Rio de Janeiro, RJ)


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Sou Alix Tereza de Carvalho Moreira Monassa de Paula, viúva do Ajuricaba Monassa, estou indignada, pois até hoje (2/8/2008), não há solução da morte do meu marido, que foi assassinado pelo vereador Oswaldo Luiz de Carvalho Vivas, que agora é candidato à reeleição como vereador nesta cidade e continua impune. Será que vai ser mais um crime brutal esquecido pelo nosso Judiciário? Será que vamos ter mais um assassino no poder? Será que a impunidade no nosso país vai continuar? Será que o nosso TRE vai continuar dando guarida a candidatos assassinos?


São tantos ‘serás’ que fico louca, sendo uma viúva com dois filhos de menores, largada ao Deus-dará. É um crime em que há provas suficientes para que o vereador seja preso. Em abril de 2006 ele foi denunciado pelo meu marido e por mim, por ameaça, pois Oswaldo Vivas nos ameaçou de morte. Em 24/7/2006 ele cumpriu a promessa e está livre para concorrer a Câmara Municipal de Guapimirim. Peço a interferência de vocês, pois estou sozinha. É mais um jornalista morto, por denunciar um vereador, e nada acontece. (Alix Monassa, comerciante, Guapimirim, RJ)


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SBT, 19h30, programa Eu, a patroa, e as crianças. Eu e minha sobrinha de 6 anos assistindo. Comercial: uma boneca da Estrela. ‘Titio, compra uma para mim…’. Outro comercial, sobre enviar mensagem de celular para um determinado número, tudo dirigido ao público infantil: ‘Se eu tivesse celular eu enviava a mensagem’, disse minha sobrinha. Fiquei assustado. O fato é que crianças não têm discernimento, capacidade de defesa e compreensão sobre o trata a publicidade. Apoio totalmente as propostas de restrição para publicidade infantil. Países sérios já fizeram isso. Limitar não é proibir, não significa atentar contra liberdade de expressão, não é censura, é simplesmente limite. Não existem liberdades absolutas, tudo tem limite.


Corta para o Programa Amaury Jr, cobrindo o Congresso Brasileiro de Publicidade, que teve como objetivo principal lutar contra as propostas de restrição. Tive que ouvir o Johnny Saad, da Bandeirantes, dizer: ‘Já perguntaram às crianças se elas não querem a publicidade?’ – como se fossem as crianças as pessoas capacitadas a decidir sobre isso, e como se a ‘opinião’ das crianças fosse preponderante para essa decisão. Lamentável.


Corta para Casseta e Planeta, 29/7. A marca do Banco do Brasil, na camisa dos jogadores, em quadro dos cassetas com a seleção brasileira de vôlei masculino, é encoberta, há uma nebulosidade sobre a marca. Ficou claro que a Rede Globo entende que a aparição da marca representa vantagem econômica para o Banco do Brasil. Como não há pagamento por esse serviço, a Globo encobre a marca.


Corta para Pantanal, 29/7. Na novela produzida em 1990, o personagem Jove ganha da avó, de presente, uma filmadora Sony, e sai de barco pelo pantanal filmando as belas paisagens, com a aparição do produto e da marca. Não há identificação da publicidade. Perguntei a uma pessoa idosa, que assistia comigo à novela, se entendeu o que era aquela cena. Fiz a pergunta de diversas formas, e tive a certeza de que realmente não houve compreensão do caráter publicitário da cena.


Publicidade não-identificada é vedada no ordenamento jurídico brasileiro, está no Código de Defesa do Consumidor (CDC). Ou as redes de TV avisam o consumidor, antes e depois da volta dos comerciais, sobre as mensagens publicitárias inseridas na história, ou então estão sujeitas a multas pelos Procons, de 212 reais a 3 milhões de reais. O CDC está em vigor desde 1991: ‘Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal!’. (Marco Aurélio Gomes Cunha, servidor público, Belo Horizonte, MG)


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Após 22/6/2008, quando foram exibidas extensas reportagens no Fantástico e na Rede Record, dentre outras, sobre o caso Pedrinho (menino de 5 anos que morreu devido a espancamento em Ribeirão Preto), a imprensa de grande porte praticamente se calou sobre o assunto. Pode-se até pensar que isso se deu porque o caso não ocorreu em cidades como Rio ou São Paulo, daí não teria repercussão nacional. E não apareceu ninguém para analisar a estranheza de não ser acatado pela juíza o pedido de prisão dos suspeitos (padastro e mãe).


Em 11/7/2008 foi rezada missa na Catedral da Sé, em São Paulo, e feita manifestação exigindo justiça. Houve mais uma missa em São Paulo, uma na catedral de Ribeirão Preto, uma em Joinville (SC), uma no Rio de Janeiro e outra na Catedral da Boa Viagem, em Belo Horizonte (MG). Em nenhum programa de TV em nível nacional e mesmo nos jornais houve menção sobre o fato (soube de TV a cabo que registrou). O que me intriga é o fato de tudo haver parado de repente, e na mesma data da manifestação que reuniu cerca de 500 pessoas, houve reportagens sobre Estatuto da
Criança e do Adolescente, sobre manifestação de 100 pessoas para João Paulo, assassinado pela polícia, no Rio.


Quem está protegendo os acusados? O certo é que estamos estranhando demais a imprensa. Ninguém quer estardalhaço, sensacionalismo, mas ao menos comentários e alguma análise e o relato que ocaso merece. Aí tem! Temos uma comunidade que trata do assunto no Orkut, com 1097 participantes exigindo justiça para tamanha crueldade. E o objetivo não é somente por Pedrinho, mas por todos os covardemente maltratados deste país. (Rodrigo Carvalho, engenheiro, Belo Horizonte, MG)


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Analisando o episódio da refém na praia do Guarujá, no litoral de São Paulo, fiz uma correlação com o massacre da mídia sobre a polícia pelas falhas que vitimaram um garoto no Rio. Na ocasião, o Secretário de Segurança do Rio disse que ‘o policial só pode atirar quando em situação que coloque em risco sua própria vida ou de outros’. E é aqui que quero fazer a correlação, pois a situação era a de uma jovem mãe feita refém com um revólver na sua cabeça e assistimos uma polícia acuada, sem nada fazer. Vimos por várias vezes o bandido baixar a guarda, ficando totalmente exposto ao disparo de um atirador da polícia, e nada, nada. A vítima ficou entregue à sua própria sorte. E se o bandido, em vez de atirar na própria cabeça, tivesse tirado a vida da refém? O que a imprensa (toda) estaria dizendo? Então, a mídia vai sempre ‘condenar’ em vez de cobrar? Vai sempre fazer sensacionalismo com as mazelas do país? O episódio envolvendo essa jovem também não deve ser objeto de cobranças à polícia? Ela não deveria ter atirado para proteger a vítima? (Osmauro Lúcio dos Santos, arte-educador, Ouro Branco, MG)

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