Quinta-feira, 26 de janeiro, feriado em Santos (SP), de onde escrevo – mas estou trabalhando, visto ser um dia comum na redação. Não é feriado na maior parte do país, nem em Brasília. Mas um conhecido congressista, a despeito do dia útil e da convocação extraordinária da Câmara e do Senado, estava longe da capital federal: o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), presidente nacional da legenda tucana, foi almoçar na casa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), no bairro Higienópolis, em São Paulo.
Aos dois, uniu-se o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, também do PSDB. O que discutiam enquanto degustavam a refeição oferecida pelo anfitrião FHC? Um assunto, pela projeção que se tenta dar a ele, tão saboroso quando indigesto: a corrida pela cadeira onde Luiz Inácio Lula da Silva está sentado, a qual querem agarrar de volta com unhas e dentes. Ou, por serem tucanos, com garras e bicos.
É legítima a discussão sobre candidaturas em regime democrático. Contudo, é também honesto perguntar, e não se duvide de que parte do eleitorado esteja curiosa em sabê-lo: à exceção de Fernando Henrique, livre e desimpedido (de mandato, calma!), o que Tasso Jereissati e Aécio Neves faziam tão longe de seus locais de trabalho, em ‘dia de semana’, sobretudo para tratarem de temas cujo debate passa igualmente distante das atribuições dos cargos que ocupam?
O mesmo se deve questionar ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), pré-candidato à Presidência e que esteve em Minas Gerais, com Aécio e Tasso. Ele não tinha o que fazer no Palácio dos Bandeirantes? Se já disse que deixará o cargo antes do início de abril, prazo-limite para a desincompatibilização, por que não trabalha sua candidatura fora do Estado só depois de largar o posto?
Resultado idêntico
Ávidos por informações sobre o virtual processo sucessório (quiçá, contaminados por ele), jornalistas deixam de perguntar coisas básicas como essas. É caso de se transferir o tema ao cidadão comum. Até aos próprios repórteres: se um deles largasse o computador com a matéria pela metade e fosse à sede de outro veículo discutir uma eventual admissão para função idêntica ou superior, não correria o risco de demissão?
Seria de esperar de homens públicos ditos sérios e responsáveis – e, neste momento de enterro da imagem do PT como paladino da moral e da ética – que, ao menos, pedissem licença formal para cuidar de assuntos de seu exclusivo interesse. Licença com a transferência do cargo ao imediato (no exemplo do governador, ao vice) e sem vencimentos (afinal, o chefe do Executivo nada executa nesse dia, nem o legislador propõe lei alguma).
Sobre a cobertura do ‘embate’ entre Geraldo Alckmin e o prefeito de São Paulo, José Serra, para se saber quem tentará ser presidente pelo PSDB, nesta mesma quinta-feira em que se noticiou o almoço tucano ouviu-se uma frase, de Tasso Jereissati: ‘Claro que é candidato’. Em sítios da internet, saiu com a ressalva: ‘Claro que (Serra) é candidato’.
Bem, deve ser porque algum repórter perguntou mais ou menos assim: ‘Serra tem chance?’ ou ‘Serra vai ser o candidato?’. A resposta (‘Claro que é candidato’) talvez fosse a mesma se, em vez de ‘Serra’, o questionador tivesse dito ‘Alckmin’ ou, mesmo, ‘Aécio’. Entretanto, eis o título que, num suposto tom de incrível novidade, encimou matérias de diferentes veículos, como este, da Agência Estado:
‘Tasso diz que Serra é pré-candidato à presidência da República’.
E daí? Troque o sobrenome. O resultado seria idêntico.
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Repórter do jornal Diário do Litoral, de Santos (SP), e do telejornal Band Cidade, da TV Bandeirantes