Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ainda sobre fontes confidenciais

Elas estão em toda a imprensa americana, como ferramenta do jornalismo e como polêmica entre críticos de mídia. O ombudsman do New York Times, Byron Calame, abordou (mais uma vez) em sua coluna de domingo [20/11] as tão faladas fontes confidenciais, que tanto têm dado dor de cabeça ao jornal nos últimos anos.


Seguindo recomendações de um comitê independente criado na época do escândalo do repórter-plagiador Jayson Blair, o Times anunciou novas normas para o uso de fontes confidenciais em fevereiro de 2004. Uma das maiores mudanças determinou que, antes da publicação de matérias com fontes confidenciais, pelo menos um editor tem que ser informado do nome da fonte do repórter.


No começo deste ano, o comitê reuniu-se para debater a credibilidade do jornal e o editor-executivo Bill Keller decidiu, em junho, estabelecer outras mudanças em relação ao uso de fontes anônimas. Uma delas determinava que os leitores devem ser informados por que o Times acredita que determinada fonte deva ficar no anonimato.


Estas duas novas normas alteraram profundamente o papel de fontes confidenciais na redação do jornal. Na ocasião, Keller estabeleceu objetivos a serem cumpridos no prazo de um ano, como tornar o uso de fontes anônimas uma ‘exceção’, em vez de ‘rotina’. Como o fim do ano está próximo, Calame afirma que parece um bom momento para avaliar como está o uso de fontes confidenciais no Times.


O ombudsman diz que ainda há muitas melhoras a serem feitas. Ele pega como exemplo um artigo de primeira página da semana passada que não explicava a atribuição de uma citação a um funcionário do governo sobre a certeza do presidente Bush e outros dois funcionários da Casa Branca não terem contado a Bob Woodward sobre a identidade secreta de Valerie Plame. Há ainda outros exemplos de como as explicações não são claras o suficiente e que geraram críticas por parte de leitores. Em um artigo publicado em julho sobre a vaga em aberto na Suprema Corte, o jornal atribuiu uma citação de que ‘no fim do dia, o presidente iria decidir quem indicar baseado em seus princípios, e não sob pressão de grupos’ a ‘um funcionário da Casa Branca que falou em condição de anonimato porque a maioria dos membros da equipe não é autorizada a falar sobre a vaga em aberto’. ‘Que possíveis razões relacionadas a esta notícia poderiam justificar publicar tal citação?’, questionou um leitor.


A partir do momento em que o repórter e o jornal tiverem que explicar claramente e constantemente a razão do anonimato de cada fonte, citações anônimas deixarão de ser tão utilizadas, defende Calame, exceto em matérias nas quais seu uso é vital: segurança nacional, informações secretas e artigos investigativos.


O ombudsman afirma acreditar que fontes confidenciais devam continuar sendo uma ferramenta essencial nas redações. Explicações dos motivos pelos quais o jornal está dando o anonimato podem contribuir para se entender o que levou as fontes a decidirem divulgar as informações. ‘Fontes anônimas podem ser tanto uma benção como uma maldição para o jornalismo e para os leitores’, conclui Calame.